Em 2010, um perfil humorístico sobre Dilma Rousseff, recheado de piadas e frases de efeito sobre todos os assuntos ganhou vida no Twitter e no Facebook: Dilma Bolada, de autoria de Jeferson Monteiro. Em meados de julho deste ano, o autor decidiu retirar todo o conteúdo da internet, mas voltou atrás seis dias depois sem dar uma única explicação convincente.
A movimentação suspeita levantou questionamentos sobre as motivações que levaram Jeferson a abandonar e, em seguida, retomar os perfis. Especulou-se, em reportagens publicadas pela chamada “grande imprensa”, que o autor decidiu dar cabo de sua personagem porque seu acordo financeiro com o PT não havia sido honrado, coisa que não me assusta, apesar da Legislação Eleitoral proibir qualquer tipo de pagamento para publicidade na internet.
O próprio autor, em maio deste ano, disse ter rechaçado uma suposta oferta feita em nome do PSDB para “comprar” seu “apoio”. Chegou a publicar uma carta aberta, que teve seu teor reproduzido em diversos sites, afirmando não estar à venda. Até mesmo os canais oficiais do PT entraram na onda e publicaram uma imagem a respeito, agregando a hashtag #GuerraSujaNão e denominando a oferta de “proposta indecente”.
O limite entre a publicidade e a livre manifestação de apoio a determinado candidato não parece estar bem estabelecido. Na primeira quinzena de julho, a revista Isto É publicou uma matéria intitulada “Humoristas de aluguel”, na qual denunciava abordagens de uma agência a diversos autores muito populares na web. A matéria faz questão de ressaltar a prática ilegal configurada nesse tipo de “patrocínio”.
A guerra midiática para construir e destruir reputações
Ao trabalhar com gestão de crise e em diversas campanhas políticas, aprendi que toda matéria tem algum tipo de intenção.
Penso que Jeferson tentou sim comercializar seu canal para ter algum tipo de retorno financeiro, produzindo uma estratégia de marketing digital disfarçado, mas a agência que fez a oferta não deve ter conseguido consolidar a negociação com o cliente por divergência financeira ou política. O autor, com medo dos efeitos de uma possível exposição da trativa pelo lado adversário, optou por gritar primeiro na mídia.
Já a matéria da Isto É pode ter sido uma tentativa de atenuar os impactos negativos de humoristas que estariam agindo por encomenda de algum político para difamar seus adversários. Qualquer um dos quatros principais partidos (PSDB, PSB, PMDB e PT) poderia ter incentivado a publicação da matéria. O eleitorado, afinal, pode perder a fé nos seus influenciadores caso saiba que eles estão “vendidos” para algum partido.
Como Jeferson é apenas um produtor de conteúdo e não um estrategista político, não percebeu que estava dando um tiro no pé ao tornar o assunto público, pois levou a questão do financiamento para a vitrine e despertou a desconfiança da cúpula petista. Não é preciso ser um gênio para ir até seu perfil no Linkedin e comprovar que o criador da Dilma Bolada trabalhava para uma agência que atende o PT. Melhor ainda, foi contratado em 2012 e saiu em 2013, pouco antes de seu encontro oficial com Dilma.
Entendo o retorno dos perfis da Dilma Bolada como uma confissão sobre a existência de um acordo financeiro entre as partes. O autor não tem motivos para temer, já que seria necessário um contrato ou um comprovante de pagamento para que fosse caracterizado crime eleitoral, coisa que imagino ser muito difícil encontrar. Provavelmente, se há algum tipo de remuneração, ela deve ter sido feita em espécie ou por meios que não deixam rastros.
Enquanto o crime não for configurado, o perfil pode continuar publicando conteúdo contra os demais candidatos livremente. E se for questionado pela Justiça, ainda cabe um recurso: doar os perfis para a campanha oficial. Simples assim! Com essa manobra, todos os seguidores e fãs passariam a ser de posse do PT, que poderia seguir a mesma linha editorial, apenas evitando ataques, mas mantendo o lado “simpático” da presidente.
Quanto vale um perfil influente para uma campanha política?
De qualquer forma, fica uma pergunta muito importante: de quanto estamos falando?
Calma, não estou falando do suposto valor acertado entre as partes! Me refiro ao impacto que um perfil de humor tem em um resultado eleitoral, a conversão prática em votos de um canal que tem como princípio o entretenimento. Quanto vale a Dilma Bolada?
Audiência não é sinônimo de engajamento
No Facebook, o perfil tem cerca de 1,5 milhão de fãs, com postagens que chegam a 35 mil likes e algo próximo de 5 mil compartilhamentos. Parece muito, mas significa um “engajamento” de 2% em curtidas e 0,03% em compartilhamentos. No Twitter, o perfil tem cerca de 200 mil seguidores. A publicação que observei com o maior número de compartilhamentos chegou a 1,5 mil retweets, cerca de 0,06% de engajamento.
Em 2010, Dilma teve 55 milhões de votos, marca que precisa, no mínimo, repetir para ser reeleita, contando hoje com a rejeição de 35% do eleitorado.
Não sei para você, mas a impressão que tenho é que a Dilma Bolada não vale mais do que um palito de fósforo queimado quando falamos em resultado prático nas urnas, o que torna toda a discussão sobre crime eleitoral desnecessária e faz com que a preocupação dos adversários pareça um tanto pueril.
PS 01: Após a publicação deste texto, a Folha de S. Paulo noticiou que Jeferson Monteiro será consultor do PT nas eleições 2014.
PS 02: Jeferson Monteiro entrou em contato com a Presença Online por meio de seu perfil pessoal no twitter e negou qualquer envolvimento com o PT.