Ouvi recentemente o uso da expressão “lugar de fala“, popularizado por meio da filósofa Djamila Ribeiro, de forma bem diversa da original. O que me levou a refletir sobre a possibilidade de também visualizá-lo através de um viés diferente.
A busca pelo entendimento da realidade de quem está falando pode ter ferramentas como o Twitter como auxiliar nesse processo? Eu acredito que sim. Essa rede social é especificamente composta por peculiaridades que a deixam mais distante. Ela se distancia de uma realidade de certo modo mascarada que existe em outras, como Instagram, por exemplo.
Aqui, fotos e filtros têm valor ínfimo e não se aproximam do foco principal dos conteúdos. E esse ponto diverso permite ao Twitter estar mais próximo efetivamente de um lugar de fala. Esse lugar de fala, transposto para o digital, não perderia excessivamente suas características. E ainda ganha em autenticidade.
A autenticidade é muito presente no Twitter, local utilizado por jornalistas, políticos e personalidades. Nesta rede social, cujos pensamentos são expostos, sim, com intuito previamente pensado, mas, de certo modo, mais próximos dos usuários. Esse sentimento de proximidade trazido por meio dos “tweets” é diferente de um story ou dancinha de outras redes. Aqui, carrega-se em cada palavra a forma como o mundo naquele momento é visto.
A consciência de estar no lugar de fala
Quando determinado emissor toma consciência do seu papel e do seu lugar de fala, utilizando-se do digital e da gama de conexões infinitas possíveis de serem alcançadas, ele torna-se mais potente. Essa força, no entanto, vem acompanhada de níveis elevados de discordâncias, críticas e das demais intempéries do meio. E, claro, é preciso aprender a lidar.
De todo modo, o “risco” torna-se válido. Diante das possibilidades sempre crescentes de oferecer ao mundo a visão clara de quem está no seu lugar de fala, pode-se sair do seu pensamento fortalecido, apoiado por semelhantes e ganhando benefícios que outrora estariam mais distantes.
*Artigo publicado originalmente na edição impressa do Jornal do Comércio de 31 de maio de 2022.