Costumo dizer que todo ano eleitoral tem um cheiro, tem um sentimento que permeia o inconsciente coletivo e que norteia a comunicação das campanhas eleitorais. Acredito que a eleição de 2024 será marcada pela descrença dos eleitores com a política.
Em 2018, tivemos o ano da ruptura do sistema político tradicional, sempre com as mesmas caras, com os discursos ensaiados e pensados para evitar conflitos com o maior número possível de pessoas, porém, quanto mais político o candidato parecesse, menor a credibilidade que ele tinha ante ao eleitorado. Nomes nunca vistos surgiram e obtiveram boas votações. O presidente do Brasil foi eleito com um discurso bastante duro e polêmico, contrariando as eleições brasileiras anteriores. A política quis dançar valsa, o eleitor quis rock and roll.
Em 2020, tivemos uma eleição marcada pela pandemia do Coronavírus, com muito menos campanha de rua, já tradicional no Brasil, e a ruptura foi deixada de lado em detrimento à experiência. Nomes da “política tradicional”, rejeitados em 2018, voltaram com força. O eleitor buscou arriscar o menos possível, e o foco da eleição foi a saúde. O número de prefeitos reeleitos cresceu cerca de 50% quando comparado à eleição municipal anterior.
Em 2022, a pauta mudou. A pandemia já não assustava mais e o eleitor se mostrou menos preocupado com pautas de costumes, e mais dedicado a focar na recuperação dos estragos que a Covid provocou nos bolsos e nas mesas das famílias. Muita gente endividada, com baixo poder aquisitivo, e moeda desvalorizada impulsionaram os votos na direção de candidaturas comprometidas com a recuperação econômica.
O que podemos esperar da eleição de 2024?
E agora? O que podemos esperar de 2024? É sempre arriscado cravar uma posição, porque o futuro pode trazer algo inesperado no meio do caminho e deixar as previsões envergonhadas, mas prefiro fazê-lo a me omitir.
Com o que venho observando nas redes sociais e nos grupos qualitativos que acompanho, noto que há um padrão em boa parte dos eleitores: a descrença na classe política como um todo.
É um cenário diferente que vi em 2018, quando muita gente generalizou a política como a “velha política” e entendeu que os novos postulantes fariam uma ruptura, mudariam tudo e colocariam a política no devido lugar. Hoje, não vejo essa credibilidade nem naqueles que se colocam como os “diferentes”.
O eleitor, de forma geral, parece congelado. Vez em quando aparece alguma situação que volta a colocar fogo nas militâncias, majoritariamente conservadoras e progressistas, como a performance feita por Madonna em um show no Rio de Janeiro, mas nada que altere a percepção geral sobre os rumos do país.
Quando a ebulição acaba, os expoentes ideológicos voltam às suas casas, falando mais para os seus, e os eleitores menos partidários voltam a lidar com o problema que bate em suas portas: o buraco na rua, a falta de iluminação, o remédio no posto de saúde que atrasou, a vaga na creche que não foi aberta, a cidade que está suja ou feia.
Para a maior parte dos eleitores, o buraco na rua não é de esquerda e nem de direita. O buraco é do prefeito, e não importa por quem ele é apoiado.
Mais do que nunca, vejo que o desafio dos candidatos será vencer a descrença da população sobre o resultado da eleição. O eleitor precisará ser convencido que o voto mudará alguma coisa em seu benefício ou deixará de votar, colocando a eleição nas mãos dos militantes ideológicos.
Propostas serão muito bem-vindas, mas o que está por trás das intenções dos candidatos será ainda mais importante. As origens, as crenças, a família, enfim, a candidatura precisará ser muito transparente e mostrar, de forma legítima, quem é e como pensa o candidato. Só assim a ponte com os eleitores será refeita.
Saber usar o marketing político de forma estratégica para construir uma boa narrativa e fazer a conexão entre a candidatura e o eleitor será um diferencial significativo para essa eleição.
Prepara-se para enfrentar os desafios da eleição 2024 com o Imersão Eleições Campanha. Uma experiência imersiva de quatro dias, de 13 a 16 de junho, com foco na preparação de profissionais e candidatos para as sete semanas do período eleitoral. Você pode escolher a modalidade presencial, em Brasília, ou on-line para assistir em qualquer lugar do país. Vagas limitadas! Acesse imersaoeleicoes.com.br/campanha e inscreva-se agora mesmo!