A deep fake já é parte da produção da nossa realidade em 2024. As eleições presidenciais na Argentina comprovaram o uso abusivo da tecnologia em campanhas eleitorais, no Brasil não será diferente.
O uso de IA insere uma nova complexidade para a corrida eleitoral: a produção de conteúdo sintético audiovisual ou textual com o auxílio de máquinas treinadas para reproduzir comportamentos humanos. Não sabemos mais o que é produto de código, e não sabemos o que é verdadeiro. Para isso, que o TSE recentemente aprovou medidas para a mitigação dos danos que as novas tecnologias podem causar.
O que é uma IA pode fazer
Em 2018 já tínhamos contato com outros tipos de Inteligências Artificiais, identificamos robôs em redes sociais, mensagens distribuídas em massa através de aplicativos de mensagens e, ainda, os famosos “cliquebaits” nas primeiras páginas do Google. As discussões sobre falsos consensos na internet produzidos pelos “bots” e a desinformação no período eleitoral disseminados nos grupos de familiares e amigos já conformavam o cenário eleitoral.
Hoje já é possível falar sobre uma desinformação multiplataforma, ou seja, informações que são espalhadas na rede em diferentes canais, que podem ser ações coordenadas em uma estratégia cross e transmídia com uso de IA. O episódio do Laranjal do Boulos é dos casos que foi analisado após as eleições de 2020.
O que é um deep fake
O que muda nas eleições de 2024 é a possibilidade de reprodução gráfica dos candidatos com o objetivo de imitar, falsear ou produzir conteúdos que pareçam ser o próprio candidato falando. Para entender melhor como a ferramenta pode ser utilizada você pode acessar o vídeo de Jordan Peele imitando Barack Obama em 2017 com ajuda de Inteligência Artificial.
Outro recurso que também pode vir a aparecer são os áudios falsos. Esses são ainda mais difíceis de serem detectados. As vozes não possuem erros visuais – como os seis dedos da capa da Veja –, ou possíveis marcas d’água fornecida pelas plataformas digitais e por isso, tem maior capacidade de viralização sem questionamento.
Como podemos utilizar a Inteligência Artificial na Eleição de 2024
No dia 27 de fevereiro deste ano, o TSE aprovou a resolução de propaganda eleitoral para a próxima corrida eleitoral municipal. Todos os conteúdos produzidos por IA deverão identificar que houve uso da tecnologia. O tribunal definiu que “A utilização na propaganda eleitoral, em qualquer modalidade, de conteúdo sintético multimídia gerado por meio de inteligência artificial para criar, substituir, omitir, mesclar ou alterar a velocidade ou sobrepor imagens ou sons impõe ao responsável pela propaganda o dever de informar, de modo explícito, destacado e acessível que o conteúdo foi fabricado ou manipulado e a tecnologia utilizada.”
Neste documento também foi vedado o uso de deep fake. Segundo o documento “É proibido o uso, para prejudicar ou para favorecer candidatura, de conteúdo sintético em formato de áudio, vídeo ou combinação de ambos, que tenha sido gerado ou manipulado digitalmente, ainda que mediante autorização, para criar, substituir ou alterar imagem ou voz de pessoa viva, falecida ou fictícia (deep fake)”. Cabe ressaltar que mesmo com a identificação do uso deste tipo de IA no produto, o uso é vedado. Além disso, os chatbots, utilizados na maioria das vezes para manter a comunicação direta com a população, deverão ser identificados enquanto tais. A resolução explicita que “O uso de chatbots, avatares e conteúdos sintéticos como artifício para intermediar a comunicação de campanha com pessoas naturais submete-se ao disposto no caput deste artigo, vedada qualquer simulação de interlocução com a pessoa candidata ou outra pessoa real.”