Em tempos de eleições, nossas redes sociais são inundadas por publicações de candidatos ávidos pela aprovação popular. Será que eles estão trilhando o rumo certo? Campanhas políticas na internet deveriam ser utilizadas para levar mais informação para o eleitor que ainda não definiu seu voto, mas o que vemos é um jeito antigo de usar um meio de comunicação novo.
Boa parte das campanhas usa a internet, em geral, de uma maneira muito equivocada. Porém, é nas redes sociais onde ocorrem os maiores despautérios.
Campanhas para o legislativo sofrem com poucos recursos
Nas campanhas minoritárias, muitos candidatos ainda usam perfis pessoais como plataforma eleitoral, em vez de adotar a utilização de páginas criadas para o pleito. Qualquer profissional de comunicação digital experiente sabe que não se deve usar perfis pessoais para atividades profissionais. Para isso criam-se páginas específicas, que não possuem limitações no número de fãs e garantem acesso a dados importantes sobre o conteúdo publicado, bem como estatísticas sobre acessos e cliques.
Falta aos candidatos visão sobre o potencial da rede. Eles não entendem que a internet não tem apenas um papel de diálogo com a população. A web pode ser usada para mobilizar a militância dentro e fora da rede, estimulando discurso e ações que se convertam em votos.
Muitas campanhas sequer desenvolvem páginas fora de redes sociais, baseando toda interação no Facebook, Instagram ou Twitter. Ferramentas ótimas para compartilhamento, mas péssimas para organização e indexação de conteúdo que agregue algo na decisão do voto.
Sobre o conteúdo, a aposta mais comum e completamente equivocada é a disseminação de fotos e frases motivacionais. Claro que estes tipos de publicações acabam contando com uma boa porção de ‘likes’ e compartilhamentos, mas o que elas representam? Qual poder de convencimento uma foto bonitinha, com um punhado de ‘likes’, pode ter na cabeça do eleitor no fatídico momento em que ele olha para a urna? Ele se lembrará daquele candidato engraçadinho que postava fotos bacanas e dava bom dia nas redes sociais?
A experiência diz que não. Se eleição fosse apenas concurso de popularidade, mais de dois terços dos deputados seriam outros. Poucos contam com o prestígio popular que um Romário ou um Tiririca possui.
Em vez de diálogo e interação, campanhas majoritárias buscam ‘likes’ e fãs
Entende-se por rede social digital um ambiente virtual para relacionamento social, isto é, para diálogo e interação. Essas características quase nunca são respeitadas pelos candidatos. O que mais vemos são compartilhamento de agendas públicas, fotos de eventos, frases soltas e imagens parabenizando cidades ou profissões por seus aniversários.
Para ilustrar o problema, analisei 72 horas (dias 17, 18 e 19 de agosto) de atividades nas redes sociais de Dilma Rousseff e Aécio Neves. Não incluí as redes de Marina Silva por causa do momento atípico vivido pela sua campanha, devido à morte de Eduardo Campos. Segue o resultado:
Dilma |
Aécio |
|
Propostas de campanha |
2% |
4% |
Histórico / trajetória |
26% |
4% |
Opiniões sobre temas atuais |
0% |
0% |
Agenda de campanha |
7% |
15% |
Materiais de campanha |
7% |
11% |
Fotos da campanha |
24% |
59% |
Frases motivacionais ou de apoio |
33% |
7% |
Número de conteúdos no período |
42 |
27 |
Média por dia |
14 |
9 |
Segundo a análise, as duas campanhas publicaram pouco conteúdo propositivo, que trata de propostas da sua candidatura. Aécio faz poucas referências ao seu passado como governador de Minas, enquanto despeja fotos e agenda. Dilma apela para o emocional, com muitas frases ou imagens de apoio à candidatura, fala sobre seu governo e publica mais fotos. Nenhum dos candidatos apresenta suas opiniões sobre temas de interesse da população. Isso sem contar o número excessivo de publicações por dia!
O eleitor está cansado desse tipo de conteúdo, mas as campanhas continuam insistindo nesse modelo que cabe muito bem nos meios tradicionais, em formato de broadcast, mas que fracassa na web.
Apesar de muitos terem se animado com as campanhas de Obama nos Estados Unidos, a visão no Brasil ainda é muito restritiva. Os candidatos pressionam os estrategistas para aumentar o número de curtidas e não entendem que não é o número de fãs que conta diante da urna, mas sim o conteúdo.
Em uma pesquisa recente que fizemos com mais de mil eleitores conectados, os principais fatores indicados como determinantes para definir o voto foram: histórico ou trajetória política; propostas apresentadas e opiniões dos candidatos a respeito de temas atuais. Você pode ver os dados completos da pesquisa no no artigo “O que o eleitor conectado quer?“.
Publicar agenda, fotos de campanha ou frases de incentivo pode ser agradável para quem já faz parte do eleitorado do candidato ou para a militância, mas em nada contribui para conquistar um eleitor indefinido.
Até mais!
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