São necessários cerca de 60 votos para uma pessoa ser eleita como vereador no município menos populoso do país, Serra da Saudade, em Minas Gerais. Já na capital paulista, São Paulo, uma candidatura para vereança exige pelo menos 20 mil votos. O mesmo cargo, a mesma função (teoricamente) e realidades tão diferentes.
É engraçado como o cargo eletivo considerado “mais baixo” dentro da política, o de vereador, também é o mais precioso dentro do jogo político. E qual o motivo? O apoio nas eleições para cargos maiores e a transferência de votos. Todos os deputados, senadores e prefeitos viram reféns das lideranças menores.
Esse jogo funciona mais ou menos assim: durante as eleições municipais, os candidatos e as candidatas à vereança buscam, de forma desesperada, os candidatos (as) a prefeito e deputados (as) eleitos (as) para apoiarem suas candidaturas com recursos, infraestrutura e mensagens de apoio. Afinal de contas, é a campanha mais difícil de todas, pois é a mais concorrida e a mais próxima do eleitor.
Dessa forma, ao final da eleição municipal, os vereadores eleitos são imediatamente assediados pelos prefeitos e deputados. O motivo é para garantirem o apoio para dois anos após, na próxima eleição. E aí, o “toma lá, dá cá” rola solto. São cargos, emendas, favores e outros pedidos não republicanos trocados pelos apoios.
Vereador é o mais e também menos valorizado na política
São os vereadores que lidam diretamente com o eleitor nas periferias, na ponta, na linha de frente. São os vereadores que realmente sabem pedir o voto e sabem a real dor e necessidade da população. E para resolver esses problemas mais urgentes e necessários, são os vereadores que pedem, de pires na mão, favores aos deputados “tão poderosos”, recursos para chegar na ponta.
E então o poderoso deputado entrega “migalhas” para essa liderança, na esperança de manter o apoio para sua própria eleição. Dessa forma, os vereadores atendidos – e também os não atendidos – pressionam mais e mais para mais e mais recursos. O objetivo? Garantirem também suas próprias eleições. E os deputados que não conseguem o apoio dos vereadores, passam apuros para se reelegerem, pois não vão ter uma liderança para pedir o voto por eles.
Esse é o jogo para a perpetuação do poder. É ilegal? Não! Imoral? Talvez. Mas a realidade é assim, infelizmente.
Quem dera se tivéssemos um meio para fazer esse círculo vicioso acabar, não é mesmo? Um espaço onde o candidato pudesse construir sua reputação, sem precisar desse jogo de toma lá, dá cá. Espere! Temos esse meio: a internet! Mas é preciso saber usá-la, para romper esse controverso sistema. Porém, isso fica para uma outra conversa.