Durante sua curta passagem pelo Flamengo no ano de 2001 o jogador Vampeta – que à ocasião estava com os salários atrasados – soltou a seguinte pérola referindo-se aos dirigentes do rubro-negro: “eles fingem que me pagam e eu finjo que jogo”.
Reli esta frase antológica um dia desses e imediatamente me veio à cabeça a analogia: será que não estamos fazendo a mesma coisa no marketing político, especificamente no digital?!
A gente (agências/consultores/assessores) finge que dá resultado e nossos clientes (políticos/órgãos públicos) fingem que estão gostando?!
Não é fácil fazer um mea culpa, admitir erros, reconhecer que poderia ir além. Ainda mais num segmento povoado por marqueteiros e consultores, pródigo em egos inflados e autoestima no espaço,
O debate que proponho é: não teria chegado a hora de baixarmos um pouco a nossa bola e fazermos uma grande reflexão sobre o nosso trabalho digital e os resultados que estamos oferecendo (ou não) para nosso clientes e assessorados?
Não tenho a pretensão de generalizar nem falar por todo o mercado.
Estou embasado apenas em minhas experiências profissionais e no universo no qual atuo.
Tenho estudado o tema, viajado pelo Brasil conversando com profissionais que atuam na área e observado de perto o mercado da capital federal, reduto dos políticos mais relevantes do país.
Minha impressão é que as agências digitais estão com receio de perder seus clientes e os assessores seus empregos.
E, assim, cria-se um círculo vicioso: por ser mais fácil e mais seguro ficar na zona de conforto, perde-se a oportunidade de catequizar quem realmente importa: os políticos. Num português bem claro: eles precisam entender de vez o que a gente faz.
Para que o nosso mercado de marketing político digital amadureça de vez é fundamental que enfrentemos nossos clientes, no bom sentido.
Eles precisam compreender como funciona o nosso trabalho para que possam nos cobrar as métricas e os resultados que farão a diferença no que importa para eles: conquistar os corações e mentes do seu público-alvo: os cidadãos/eleitores.
Já estamos virando a primeira metade de 2017 e ainda vivemos apegados às métricas da vaidade – afinal o que os nossos clientes/assessorados querem são likes no Facebook, certo?! A cultura das curtidas continua impregnada em nós.
Acho que estamos errando em vários pontos: continuamos fazendo marketing de massa numa plataforma que possibilita ampla segmentação de conteúdo; nosso foco continua nas redes sociais, desprezando os canais próprios; apostamos todas as fichas no conteúdo orgânico ignorando que o Facebook virou uma mídia e requer investimentos cada vez maiores em ads e performance; não conseguimos mobilizar militantes nem tampouco os embaixadores e micro-influenciadores de nossos assessorados; o Google continua sendo um coadjuvante de luxo em nossas estratégias digitais; não conseguimos reagir nem prevenir crises de imagem; nosso conteúdo não é nativo; captar leads e montar mailings é tarefa chata, então deixamos pra perto da eleição e estamos longe de analisar dados e criar narrativas e posicionamentos.
A lista é longa e não caberia neste artigo-desabafo.
É claro que há honrosas exceções. Tem muitos profissionais trabalhando direito, pensando fora da caixa e oferecendo uma presença digital plena a seus clientes.
Mas, na média, impera a mediocridade, o “mais do mesmo”.
No digital político não existe receita pronta. A gente só aprende arriscando, errando, acertando.
Mas, para acertar, é preciso experimentar, ir além das expectativas e do óbvio.
Embora seja uma “disciplina” tão recente, o marketing político digital já precisa ser reinventado.
Para o bem do nosso mercado e dos nossos clientes deixemos o Vampeta para o futebol.
No marketing político não há espaço para fingimento.
Chegou a hora de oferecermos mais que curtidas e sim uma presença digital ampla, profissional e de resultados.