Você já percebeu que, em ano eleitoral, os candidatos usam e abusam das cores em suas campanhas? Para que não lhe falte à memória, em 2018, vimos tanto verde e amarelo entre apoiadores do Bolsonaro quanto em torcida do Brasil em copa do mundo. Na disputa eleitoral que teve Haddad, o candidato petista, também não faltou vermelho e branco. Há quem goste, há quem acha exagerado. Do ponto de vista do marketing político, a identidade visual para campanha eleitoral não é feita para ser bonita; seu principal objetivo é ajudar na construção de imagem e criar uma “identificação” entre apoiadores de um mesmo candidato ou de uma mesma ideia.
Identidade visual na campanha eleitoral é algo relativo
Na política, o mais bonito nem sempre é o eficaz. Um bom exemplo disso, na prática, é a campanha de Arthur Henrique, do MDB, para prefeito de Boa Vista, em 2020, pensada pelo estrategista Marcelo Vitorino. Uma campanha desenhada nas cores verde e roxo, à la buzz lightyear, com muito contraste e diagramação simples, mas que mobilizou a maioria do eleitorado para o voto nas urnas.
“A escolha da tipologia e da cartela de cores da campanha teve relação com a imagem que queríamos projetar e com os públicos alvo da comunicação. Boa Vista era uma cidade cinza, que com as últimas gestões, se tornou colorida. E essa alegria e contraste precisava estar em todas as peças.” (Marcelo Vitorino)
É claro que uma eleição não se deve apenas à identidade visual, mas, sim, ao contexto e a cada uma das estratégias adotadas na campanha. Ainda assim, depois da vitória com 85,36% dos votos, em Boa Vista, fica o questionamento: uma paleta de cores simétrica, a fonte mais bonita, uma tipologia limpa e o encaixe perfeito dos elementos é a única forma eficaz de trabalhar identidade visual em campanhas eleitorais? Em Boa Vista, não.
Isso revela que o mais importante, em qualquer campanha, é alinhar as estratégias às expectativas do eleitor. Uma estratégia de identidade visual feita com dados e conhecimento do contexto aponta para a importância máxima da conexão com o eleitorado e, não, para a opinião técnica do diretor de arte, da família do candidato ou de um amigo, cuja preferência é mais elitizada, por exemplo.
Já vi muitos candidatos com boas propostas e chances de eleição não vencerem porque a identidade visual era requintada demais e não dialogava com o eleitor simples. O contrário também ocorre.
Identidade visual em campanha eleitoral deve ser livre de preconceitos
Como já disse, identidade visual não é para criar uma arte bonitinha. Um bom estrategista precisa abandonar os preconceitos e não pensar que somente a sua opinião está correta.
Diferente do que muitos profissionais munidos de suas visões cheias de vaidades podem considerar, a identidade visual de Arthur, em Boa Vista, dá gosto de ver, pois reflete estratégia e dialoga com o seu eleitorado. Isso é pensar além da arte bonita; é ser profissional.
Identidade visual para campanha eleitoral requer planejamento
Numa campanha eleitoral, há lugar para o simples e para o sofisticado. Da mesma forma que tem espaço para o bonito e para o feio. O que determina qual caminho será mais eficaz é um bom planejamento.
Nesse caso, para traçar uma identidade visual que produza resultados satisfatórios, é importante conhecer a história do candidato, a cultura da cidade ou estado, o contexto em que estão vivendo, as opiniões políticas, os adversários e, principalmente, o público-alvo.
Essa é a grande diferença entre um trabalho profissional, feito com pesquisa, testes e planejamento, para um trabalho amador, feito apenas com achismos e paixões pessoais.
Para finalizar, compartilho um dos meus aprendizados com campanhas, que faz toda a diferença para quem trabalha na área: você pode até julgar uma identidade visual como bonita ou feia, mas não deve julgá-la ineficiente, se não conhece o contexto em que está sendo aplicada. Em campanhas eleitorais, cada estratégia é única.