O professor Marcelo Vitorino fala com frequência que eleições são definidas pela forma com que os eleitores compreendem as candidaturas, por meio de narrativas que misturam elementos racionais e emocionais, dentro de uma linha do tempo. O diamante tem um papel fundamental nessa narrativa.
O objetivo de uma entrevista diamante é reunir um conjunto de conteúdos que poderão ser utilizados em vários momentos da campanha, dentro de outras peças ou de forma individual, para estabelecer conexões emocionais entre a candidatura e os eleitores.
O que é o diamante
O diamante consiste em uma filmagem que resume o pensamento do candidato a respeito de vários temas, como a história de vida pessoal, a história profissional, os valores que possui, as ambições e expectativas, as motivações, a visão de mundo, a relação com a família e amigos, a relação com outros políticos (parceiros e adversários) e os momentos principais de sua vida.
Geralmente, o diamante é gravado em ambiente neutro, claro, utilizando planos fechado e médio, frontal ou levemente lateral, com profundidade de distância focal, de maneira que o candidato seja a única coisa a chamar atenção. Evita-se roupas e adereços chamativos, a menos que sejam parte do vestuário padrão do candidato.
Como fazer a entrevista diamante
Para que flua melhor e tenha maior naturalidade, dispensamos o uso de teleprompter, coletando o depoimento do candidato em formato de entrevista, em que a voz do entrevistado será suprimida posteriormente. Daí a importância de explicar ao entrevistado que ele deve repetir a pergunta feita ou contextualizar a resposta antes de entrar nela propriamente dita.
Por exemplo: “O que lhe motivou a ser candidato?”, a resposta deveria seguir algo como “Muita gente me pergunta porque decidi ser candidato. Toda candidatura deve ser um movimento de grupo. Candidatura que nasce da vontade individual já nasce condenada. A minha é um desejo dos servidores públicos de todo o estado, que entenderam a necessidade de ter alguém comprometido com suas pautas. Eu sempre estive ao lado dos servidores, sou servidor, e me coloquei à disposição para disputar o processo eleitoral. Temos uma reforma administrativa pela frente e não há espaço para a omissão. É preciso ter quem defenda os servidores diante desse cenário.”
Esse material poderia facilmente ser utilizado em redes sociais orgânicas e ser distribuído por meio do impulsionamento, do WhatsApp ou de outro meio. Veja esse exemplo da campanha do Artur Henrique para prefeitura de Boa Vista, essa publicação é fruto do diamante com o candidato.
Como eleitores se conectam primeiramente a questões de ordem emocional, buscando nos candidatos quem mais se assemelha a sua vida, sua percepção de mundo e sua realidade, vale incluir histórias pessoais, incluindo nomes de pessoas conhecidas, de lugares, e fatos.
Principais perguntas para a entrevista diamante:
- Como foi a sua infância? Como era o relacionamento com país e irmãos? Aconteceu algo marcante na primeira infância? Qual a sua memória mais antiga com seu pai e com sua mãe? O que aprendeu com cada um? Se vê mais parecido com um dos pais? – perguntas que refletem as bases emocionais do candidato.
- Como foi a sua adolescência? Participava de atividades políticas? Trabalhava? Teve problemas com drogas ou álcool? Era mais introvertido ou introvertido? Quais as matérias que mais se destacava? Qual professor lhe marcou e deixou ensinamentos que usa até hoje? Tem alguma amizade que dura até hoje? Qual foi o pior momento da adolescência? – perguntas que destacam o amadurecimento, como lidou com as primeiras dificuldades.
- Como é a sua família hoje? O que costuma fazer quando não está trabalhando? Como foi o seu primeiro emprego? O que seu primeiro chefe lhe ensinou? O que motivou a escolher a carreira? Como se sentiu com a responsabilidade da vida adulta? Por que começou a olhar para a política? Teve algum momento de dificuldade? Tem alguma coisa que não faria novamente? – perguntas que refletem as escolhas da vida adulta, os aprendizados e como reage aos problemas.
- Como enxerga a política? Teve alguma influência de alguém próximo para olhar para a política? Quem admira na política? Quais as principais referências políticas locais? Como lida com políticos de grupos adversários? Já sofreu algum tipo de perseguição por sua atividade? Teve alguém que apoiou sua entrada? Como vê as prioridades e as responsabilidades do cargo que pleiteia? Por que alguém deveria votar em você? A sua candidatura vocaliza as necessidades de quais grupos de eleitores? Por que se considera apto a ocupar o cargo que pleiteia? Caso seja eleito, quais serão suas prioridades e porquê? – perguntas que definem a candidatura e quando posicionamento político para os eleitores.
- Como enxerga a questão de cotas raciais e sociais? Como vê a descriminalização da maconha? Acha correto flexibilizar as regras sobre a prática do aborto? Como enxerga a redução da maioridade penal para 16 anos? Entende que há possibilidade de recuperação de criminosos? Acredita que seja melhor privatizar empresas como Correios e Petrobrás? Considera o câmbio flutuante uma política econômica correta? Como vê os limites da liberdade de expressão? O que pensa da inclusão da discussão sexual nas escolas? É a favor de cobrança de impostos de grandes fortunas? É a favor de projetos assistencialistas como Bolsa Família e auxílio Brasil? Acredita que está correta a obrigatoriedade da composição da cota de gênero nas chapas eleitorais? – perguntas que definem o eixo ideológico do candidato.
- Teve alguma experiência com uso recreativo de drogas? Já foi preso ou esteve envolvido em alguma situação delicada? Mantém ou manteve relacionamentos extraconjugais? Já se envolveu em algum acidente com vítimas? Já teve problemas com consumo de álcool? Tem alguma situação de violência conhecida? – perguntas que são marcadores de pontos frágeis.
Recomendo a assinatura de um termo de confidencialidade antes da gravação do conteúdo. Nem todas as perguntas serão para uso público, algumas nortearão a produção de conteúdos de ampliação de reputação e contenção de danos.
O material gravado não deve ser copiado em hipótese alguma. Os arquivos devem ser limpos, excluindo as falas do entrevistador, e organizados por temas. O original deve ser destruído, ficando apenas os materiais que serão utilizados. A decupagem e cortes desse material ficam sob a responsabilidade do redator da campanha ou do estrategista, bem como, a guarda do arquivo original até a sua destruição. É preciso evitar o vazamento de informações de uso interno da campanha, bem como, o uso fora de contexto.