Com a proibição das doações corporativas, as duas últimas eleições realizadas no Brasil (2016 e 2018) foram financiadas exclusivamente por recursos públicos do Fundo Partidário e por doações de pessoas físicas.
A mudança foi instituída pela Minirreforma Eleitoral de 2015, que também criou um teto de gastos estreito para cada cargo eletivo, e diminuiu consideravelmente a quantidade de dinheiro disponível para a realização das campanhas eleitorais, sem diminuir o custo delas.
Um problema enorme e ainda não solucionado completamente por candidatos e partidos, acostumados aos recursos empresariais que desde sempre custearam o processo eleitoral brasileiro.
Dentro desta nova realidade, uma ferramenta surge com um potencial interessante para a captação de recursos e a aproximação com o eleitorado: o crowdfunding eleitoral.
Crowdfunding Eleitoral
O crowdfunding eleitoral foi incluído na reforma eleitoral de 2017 e regulamentado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições de 2018. Antes disso os recursos precisavam ser captados por meio de plataforma própria, dentro do site oficial da campanha eleitoral, o que encarecia o processo e inviabilizava a prática para grande parte dos candidatos.
A possibilidade de criar uma “vaquinha virtual” gerou um certo entusiasmo no meio político. Porém, por desconhecimento sobre a ferramenta e suas particularidades ou receio de não obter bons resultados, muitos políticos deixaram de utilizar o financiamento coletivo nas últimas eleições.
Mesmo os candidatos que lançaram suas campanhas de crowdfunding, fizeram de forma atabalhoada, com pouco planejamento.
De modo geral, os valores arrecadados ficaram muito abaixo do esperado e uma velha máxima da política brasileira voltou com toda força: “O eleitor brasileiro não doa dinheiro para candidatos ou partidos”.
Financiamento coletivo na política
Essa “lenda urbana” da política brasileira não é exatamente verdade. O financiamento colaborativo faz parte da essência da construção político-partidária. Ao longo da história, muitas causas foram e são financiadas por meio de contribuições de partidários e apoiadores, assim como projetos políticos.
Os partidos políticos, em sua origem, e muitos até hoje, são também financiados por contribuições de filiados e associados. O Novo é um case de sucesso bem atual e ainda em desenvolvimento.
Na essência, todas essas essas iniciativas são ações de financiamento coletivo, ou crowdfunding.
Esse tipo de financiamento pode ser utilizado por políticos para levantar recursos para campanhas eleitorais, financiar eventos políticos ou para sustentar um projeto de longo prazo.
Crowdfunding é planejamento
Muitos candidatos e partidos acreditaram que colocar a campanha no ar bastava para atrair um número significativo de doadores. Para ser sincero, esse é um erro muito comum entre pessoas e grupos que buscam realizar sua primeira campanha de crowdfunding.
A ferramenta facilita e viabiliza a doação. Mas, cabe ao candidato conversar com os possíveis eleitores, motivá-los e dar razões para que embarquem no projeto eleitoral e doem para a campanha.
Narrativa e mobilização
São muitos os elementos que precisam ser levados em consideração para a realização de uma campanha de crowdfunding de sucesso. Uma é indispensável: A construção de uma narrativa que engaje e mobilize os militantes e apoiadores.
Pouco tempo após ser impedida pelo Congresso Nacional, a ex-presidente Dilma Rousseff decidiu realizar uma caravana nacional para denunciar o golpe político em curso no país. Afinal, não era só o mandato dela, era a democracia que estava em risco.
Para realizar este projeto, ela precisava do apoio de seus militantes e apoiadores. Duas amigas criaram por ela uma campanha de crowdfunding chamada “Jornada pela Democracia”.
Com essa narrativa, a ex-presidente arrecadou quase R$ 800 mil, de 11471 doadores.
Estamos falando de uma presidente que tinha somente um dígito de aprovação, que implementou em seu governo uma agenda contrária ao prometido durante o período eleitoral e que não tinha apoio total nem de seu próprio partido.
Um grande case de sucesso de crowdfunding político no Brasil e que mostra a importância da narrativa e deixa uma lição: a campanha de financiamento coletivo deve focar sempre na potência do projeto. Nunca em sua carência.
Veja o texto do professor Marcelo Vitorino com dicas para a construção narrativas para a comunicação política.
O doador de sua campanha de crowdfunding eleitoral quer ser parte do projeto
Para contribuir financeiramente com uma campanha eleitoral ou um projeto político, o eleitor precisa sentir-se parte do projeto, da construção de algo maior, que irá gerar um benefício pessoal e social.
Um eleitor disposto a doar uma quantia em dinheiro, por menor que seja, é alguém que irá se engajar no projeto e tentará convencer amigos e familiares. Portanto, o crowdfunding, mais do que uma fonte de receita, é uma poderosa ferramenta de engajamento e mobilização de pessoas.
Mais do que conquistar recursos necessários para a sua campanha eleitoral ou projeto político, por meio do crowdfunding o político irá angariar embaixadores, fortalecer o seu mailing de apoiadores, conquistar mídia espontânea e marketing digital gratuito.
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