O diretor regional do LinkedIn para a América Latina, Milton Beck, costuma afirmar em artigos e entrevistas que existe uma linha clara que diferencia a plataforma de outras redes sociais existentes: o LinkedIn é um ambiente profissional, enquanto o Facebook é uma rede social para o compartilhamento de informações pessoais e para falar mal de políticos.
O LinkedIn surgiu em 2003 basicamente como um currículo online. Com o tempo, a ferramenta agregou novas funcionalidades e ficou mais parecida com outras redes sociais. Desde 2017, seu algorítimo privilegia as interações sociais e o conteúdo publicado.
Também foi criado o Pulse, um blog dentro da plataforma que seleciona artigos criados pelos usuários e divulga para outros membros da rede que possuem interesses semelhantes.
Como afirma seu diretor na América Latina, hoje o LinkedIn é um ambiente profissional, voltado para gerar boas oportunidades de negócios. Também se tornou um ótimo espaço para a comunicação e construção de imagem e reputação, inclusive para políticos.
A melhor parte: o LinkedIn não foi feito para falar mal de políticos!
Comunicação política no LinkedIn
Encontrar políticos que utilizam o LinkedIn de forma inteligente para divulgar suas ideias e propostas foi uma tarefa árdua.
Diferentemente de empresários e consultores, a maior parte dos políticos ainda não conseguiu enxergar as vantagens da rede social e utilizam o LinkedIn como um currículo online ou, na melhor das hipóteses, um replicador do conteúdo postado no Facebook.
Dois exemplos disso estão em São Paulo. O governador João Doria e o presidente da FIESP Paulo Skaf possuem perfis movimentados na rede empresarial, com muitos seguidores, porém, 100% do conteúdo é replicado do Facebook.
Cerca de 80% dos políticos que encontrei no LinkedIn estão com seus perfis desatualizados e não produzem conteúdo relevante. Um desperdício de tempo e bytes.
As poucas exceções costumam ser políticos jovens e com atuação voltada para temas relacionados ao empreendedorismo.
Um exemplo positivo é a vereadora paulistana Janaína Lima (NOVO), que produz conteúdo próprio e relevante para seu público, inclusive com mensagem personalizada para os novos contatos, tática muito utilizada por consultores no LinkedIn.
Os deputados federais do NOVO Tiago Mitraud (MG) e Marcel Van Hatten (RS) também produzem conteúdo exclusivo.
Dá para fazer melhor!
Como diz Milton Beck, o LinkedIn é uma rede social diferente, com características próprias e um objetivo muito específico. É um ambiente empresarial. Copiar e colar o conteúdo produzido para outras redes não irá gerar os resultados esperados.
É preciso utilizar os recursos e soluções oferecidas pela plataforma com planejamento e um objetivo claro, alinhado com a estratégia de comunicação do político.
Vantagens do LinkedIn para a comunicação política
A rede social possui hoje cerca de 550 milhões de usuários em todo o mundo. No Brasil, mais de 30 milhões de pessoas utilizam o LinkedIn e o número segue aumentando.
O primeiro ponto positivo é que o seu conteúdo não disputará a atenção com fotos de gatinhos, piadas e provocações familiares. O usuário do LinkedIn busca conteúdo relevante, que possa ajudá-lo em seu desenvolvimento profissional.
Outra vantagem é que o número de haters e perfis fake é consideravelmente mais baixo do que em outras redes sociais. A maior parte das críticas é feita de forma educada, até elegante. Xingar político não é o objetivo do público do LinkedIn
Em geral, a audiência da plataforma é mais exigente e busca conteúdo profundo. O política precisa saber que estará frequentemente conversando com formadores de opinião e tomadores de decisão em suas empresas. Uma ótima oportunidade para se apresentar como especialista em um tema, defensor de uma categoria profissional, falar sobre sua área de formação ou mesmo pontos mais áridos de sua atuação política.
A concorrência pela atenção dos usuários do LinkedIn é bem menor do que nas redes sociais de Mark Zuckerberg. Isso ocorre por conta do menor número de usuários, tanto pessoas físicas quanto empresas, além do menor número de anúncios, além da falta das já citadas fotos de gatinhos.
Esse público mais restrito e o algorítimo da plataforma fazem com que seu conteúdo seja mais perene e fique visível aos usuários por dias, algo inimaginável no Facebook ou Instagram. Por isso, a necessidade de criação de conteúdo é menor.
As desvantagens também existem
A maior e mais óbvia desvantagem é o menor número de usuários da rede social, principalmente quando comparamos com Facebook e Instagram. Por melhor e mais bem feito que seja o conteúdo e por mais dias que fique na timeline, o alcance sempre será limitado. Mesmo o alcance dos anúncios é frequentemente decepcionante.
Outro ponto negativo é que por se tratar de uma rede social de nicho, os assuntos que geram engajamento são mais restritos. Mas, esse é um problema que pode ser contornado com criatividade.
Explore todo o potencial da plataforma
O perfil do astronauta e ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, é um curioso caso de bom e mau exemplo de uso do LinkedIn.
Ele possui um longo perfil, com informações detalhadas e muito interessantes, como o fato de falar russo, além de português, inglês e espanhol. Ou os cursos que fez na NASA e no Instituto do cosmonauta Iuri Gagarin, o primeiro homem a ir ao espaço.
Experiências profissionais, trabalho voluntário, muitas referências e indicações. As postagens são feitas com frequência e falam sobre as ações do ministério.
Apesar disso, o ministro não publica um artigo desde 2017 e os textos postados são divulgações de eventos antigos, como o “Almoço com os astronautas”, cujo ingresso foi vendido por R$ 80 reais ou o anúncio que participaria de uma corrida chamada FireBall. Informações que não fazem nenhum sentido atualmente.
Abaixo, cinco dicas rápidas para a utilização do LinkedIn na comunicação política.
1 – Mantenha o seu perfil atualizado. Todas as informações são importantes, desde sua formação, atuação profissional, atuação política, entre outras. Só inclua as informações pessoais estritamente necessárias.
2 – Seja criativo nos conteúdos e tente sair da monocultura do empreendedorismo, tão comum no LinkedIn. Fale sobre uma categoria profissional, tendências, tecnologia, economia, política, inovação, experiências profissionais, entre outros temas.
3 – Foque em conteúdos perenes e duradouros. Que ainda farão sentido para quem visualizar após alguns meses. A timeline da plataforma é mais “engessada” que de outras redes sociais e seus artigos e publicações serão vistos por muito tempo.
4 – Faça postagens regulares e fale sobre os temas que estão em alta na internet e no próprio LinkedIn. O algorítimo irá trabalhar a seu favor.
5 – Escreva artigos. O Pulse é uma ferramenta muito interessante e seu conteúdo poderá ser selecionado e compartilhado com uma ampla rede de usuários.
Conclusão
Para quem possui equipe reduzida, muitas vezes uma “Euquipe”, criar e alimentar mais uma rede social, mesmo que em menor frequência, pode ser um problema. Nesse caso, menos é mais.
Agora, se você possui uma boa equipe, com condições de criar conteúdo exclusivo e de qualidade, o LinkedIn é sim uma boa opção.
Para um político que busca construir sua imagem e reputação na internet vale a pena explorar outras redes sociais, além do Facebook e do Instagram. Há alguns meses escrevi sobre as vantagens do Twitter. O texto pode ser lido aqui.