Você entraria em um campo de batalha de olhos vendados? Provavelmente não. No entanto, vejo centenas de pré-candidatos e profissionais de comunicação política fazendo exatamente isso a cada ciclo eleitoral. Começam a trabalhar a análise SWOT na pré-campanha tarde demais, ou pior, simplesmente ignoram essa etapa fundamental do planejamento, saindo às ruas (e às redes) sem saber exatamente onde estão pisando.
Vamos ser sinceros: em uma campanha eleitoral, o recurso mais escasso não é dinheiro, é tempo. E gastar tempo sem direção é o caminho mais rápido para a derrota. É aqui que entra a ferramenta que emprestamos da administração de empresas, mas que cai como uma luva no marketing político: a Análise SWOT — ou, no bom e velho português, a Matriz FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças).
Para quem deseja disputar uma eleição, seja para o legislativo ou executivo, entender esse conceito não é apenas “coisa de marqueteiro”, é uma questão de sobrevivência política. Neste artigo, vou te ensinar a olhar para dentro da sua candidatura e para o cenário externo, organizando as informações necessárias para montar uma estratégia vencedora.
O que é a Análise SWOT na política
A sigla SWOT vem do inglês (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats), mas para facilitar nossa conversa e o entendimento da sua equipe, vamos usar o termo FOFA. Essa matriz é dividida em dois ambientes principais:
- Ambiente Interno (Você tem controle): Aqui analisamos as Forças e as Fraquezas. São características intrínsecas ao candidato, à equipe e à estrutura da campanha.
- Ambiente Externo (Você não tem controle): Aqui olhamos para as Oportunidades e Ameaças. São fatores do cenário político, econômico, legislação eleitoral e adversários.
O grande erro que vejo em muitas reuniões de planejamento é a falta de honestidade nessa etapa. O candidato tende a achar que não tem fraquezas e a equipe, muitas vezes com receio, não aponta as ameaças reais. Uma análise SWOT na pré-campanha precisa ser brutalmente honesta. Se enganar na planilha é pedir para ser surpreendido na urna.
Mapeando o Ambiente Interno: Forças e Fraquezas
Olhar para o espelho é difícil, mas necessário. No ambiente interno, precisamos listar tudo o que depende da própria candidatura. Vamos detalhar:
Identificando suas Forças
As forças são os ativos que você já possui e que te colocam em vantagem competitiva. Não é apenas “ser carismático”. Precisamos de elementos concretos. Exemplos de forças na política:
- Recall elevado: O candidato já disputou outras eleições e é conhecido?
- Mandato ativo: Ter a máquina ou o gabinete na mão é uma força considerável de produção de conteúdo e relacionamento.
- Recursos financeiros: Capacidade própria de financiamento ou garantia de fundo partidário.
- Base de dados: Possuir uma lista de contatos organizada e segmentada (WhatsApp, e-mail) é ouro.
Reconhecendo as Fraquezas
Aqui é onde a maioria trava. Fraqueza é tudo aquilo que falta ou que joga contra você internamente. E acredite: seu adversário vai descobrir suas fraquezas, então é melhor que você as descubra primeiro para criar vacinas. Exemplos:
- Alta rejeição: Você é conhecido, mas as pessoas não gostam de você ou do seu grupo político.
- Equipe inexperiente: Contar apenas com amigos e parentes que não entendem de comunicação política profissional.
- Passado jurídico: Processos ou escândalos antigos que podem ser ressuscitados.
- Ausência digital: Redes sociais abandonadas ou com baixo engajamento real.
Analisando o Cenário Externo: Oportunidades e Ameaças
Agora é hora de olhar pela janela. O ambiente externo independe da sua vontade, mas impacta diretamente o seu resultado. A inteligência da análise SWOT na pré-campanha está em saber navegar conforme a maré.
Enxergando Oportunidades
Oportunidades são situações externas que, se bem aproveitadas, podem alavancar sua candidatura. Elas são momentâneas, então o timing é essencial. Exemplos:
- Desgaste do atual gestor: Se a prefeitura vai mal, o discurso de renovação ou mudança ganha força.
- Nova legislação: Mudanças nas regras que favoreçam o seu perfil ou partido.
- Vácuo temático: Ninguém está falando sobre um problema grave da cidade (ex: saúde, transporte) e você tem autoridade no assunto.
Mapeando Ameaças
Ameaças são riscos externos que podem comprometer o projeto. Você não pode eliminá-las, mas pode criar planos de contingência. Exemplos:
- Adversários com a máquina: Competir contra quem tem o poder de caneta e orçamento é sempre uma ameaça constante.
- Fake News: A possibilidade de campanhas de desinformação massiva contra sua imagem.
- Fragmentação partidária: Muitos candidatos disputando o mesmo nicho de eleitorado que o seu.
Cruzando os dados: transformando análise em estratégia
Fazer a lista é apenas o começo. A mágica da análise SWOT na pré-campanha acontece no cruzamento das informações. É aqui que definimos o que fazer. Veja como funciona na prática:
- Forças + Oportunidades: Use o que você tem de melhor para aproveitar o momento. Se você é médico (força) e a saúde da cidade está um caos (oportunidade), sua campanha deve focar nisso.
- Forças + Ameaças: Use suas forças para se defender. Se há risco de fake news sobre sua honestidade (ameaça), use seu histórico de ficha limpa e transparência (força) preventivamente.
- Fraquezas + Oportunidades: Corrija a casa para não perder a chance. Se a eleição está aberta para renovação (oportunidade), mas você não tem redes sociais fortes (fraqueza), precisa investir em tráfego e conteúdo imediatamente.
- Fraquezas + Ameaças: Aqui mora o perigo. Se você tem pouco dinheiro (fraqueza) e enfrenta um adversário rico (ameaça), sua estratégia não pode ser de volume, tem que ser de nicho e guerrilha.
Conclusão e próximos passos
Não subestime o poder de colocar tudo no papel. A análise SWOT dá clareza, tira a campanha do “achismo” e profissionaliza a tomada de decisão. Lembre-se: quem não sabe suas fraquezas, será derrotado por elas. E quem não conhece suas forças, desperdiça oportunidades.
A pré-campanha é o momento de errar barato para acertar caro na eleição. Faça sua matriz, reúna sua equipe e seja realista.
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