Nos últimos anos, a comunicação política passou por uma transformação profunda. A disputa pela atenção nas redes sociais se tornou um jogo cada vez mais agressivo, em que políticos e estrategistas exploram temas polêmicos, tragédias e gatilhos emocionais para manter sua relevância. Mas até que ponto essa estratégia é ética, sustentável e, acima de tudo, eficaz a longo prazo?
A recente publicação do prefeito Rodrigo Manga, utilizando a situação de saúde de Whindersson Nunes como gancho para falar de sua própria trajetória e reforçar sua imagem na base conservadora, acende um debate importante: há limites na comunicação política ou vale tudo para capturar a atenção do público?
Oportunismo ou Estratégia Legítima?
Rodrigo Manga se tornou conhecido por sua comunicação pessoal e por vender sua cidade como a melhor para se morar no Brasil. Ele adota um tom leve, utiliza gatilhos emocionais e mantém uma narrativa sempre positiva. No entanto, ao associar a tragédia pessoal de uma figura pública à sua própria história, ele abre um precedente perigoso.
O uso de momentos sensíveis para reforçar uma narrativa política não é novidade. Muitos políticos utilizam suas histórias de superação para gerar identificação e empatia com o eleitorado. Mas há uma grande diferença entre contar uma experiência pessoal de maneira orgânica e instrumentalizar a dor alheia para engajamento.
O problema maior surge quando esse modelo de comunicação se torna um padrão: a necessidade constante de manter a atenção força políticos a buscarem temas cada vez mais polêmicos, até que o público perceba a estratégia e se canse dela.
O Custo da Exposição Excessiva
A comunicação política já viu esse fenômeno acontecer inúmeras vezes. Um político ou figura pública ascende rapidamente ao adotar uma estratégia de comunicação agressiva, mas a insistência nesse modelo acaba gerando desgaste e rejeição. Alguns exemplos:
- Pablo Marçal (2024) – Candidato à Prefeitura de São Paulo, utilizou provocações e polêmicas para se destacar, especialmente nos debates. Criou momentos virais, gerou grande repercussão e quase chegou ao segundo turno. No entanto, sua estratégia não apenas o tornou conhecido, mas também elevou sua rejeição a níveis que impediram sua ascensão final.
- João Doria – Durante a pandemia, o então governador de São Paulo adotou uma estratégia de superexposição, sendo a principal figura do combate à Covid-19 no Brasil. No início, essa visibilidade lhe rendeu popularidade, mas com o tempo, a percepção de oportunismo superou a de gestor eficiente, elevando sua rejeição a níveis críticos.
- Elon Musk – Em um dos casos mais recentes, o bilionário chamou atenção ao fazer um gesto interpretado como saudação nazista. A polêmica trouxe engajamento, mas custou caro: as ações da Tesla despencaram, evidenciando que nem toda publicidade é boa publicidade.
Esses casos mostram que a estratégia de captar atenção por meio da polêmica ou da superexposição pode funcionar no curto prazo, mas dificilmente se sustenta a longo prazo. O público cansa, percebe a manipulação e, muitas vezes, reage de forma negativa.
O Fenômeno da Saturação
Um dos maiores problemas de estratégias de comunicação baseadas em polêmicas ou narrativas forçadas é a necessidade de escalada. A atenção conquistada em um primeiro momento cria uma expectativa: para continuar relevante, o político ou figura pública precisa ir além na próxima vez.
Esse fenômeno pode ser observado também no entretenimento, especialmente em séries de televisão que tentam se estender além do seu ciclo natural:
- Game of Thrones – Após anos de construção cuidadosa da história, a série acelerou seu desfecho, resultando em um final apressado e amplamente criticado pelos fãs. O excesso de exposição e a tentativa de manter o interesse do público a qualquer custo comprometeram a qualidade da narrativa.
- House of Cards – No início, a série foi um fenômeno, trazendo uma visão realista e intrigante da política americana. No entanto, com o tempo, os roteiros se tornaram cada vez mais forçados, e o escândalo envolvendo Kevin Spacey acelerou o desgaste, levando a um final sem impacto.
Na política, acontece algo semelhante. Quando um político se apoia exclusivamente na polêmica ou na superexposição, ele se torna refém desse modelo. Para manter a relevância, precisa elevar o tom constantemente, até que o público se sature e a estratégia se volte contra ele.
A Economia da Atenção Justifica Tudo?
A comunicação política moderna opera dentro da chamada “economia da atenção”. O espaço é limitado, a concorrência é enorme e qualquer deslize pode significar a perda de relevância. Mas será que vale tudo para permanecer no topo?
O problema dessa abordagem é que ela reduz a política a um jogo de engajamento. Em vez de discutir propostas e soluções, muitos candidatos passam a se preocupar mais em viralizar do que em construir um discurso consistente. E, quando a busca por atenção supera a ética e a responsabilidade, a política se transforma em espetáculo, e não em serviço público.
Políticos que entendem a importância de equilibrar exposição, autenticidade e relevância têm mais chances de construir uma reputação sólida e duradoura. Apostar apenas na polêmica pode trazer resultados rápidos, mas dificilmente sustentáveis.
A grande lição é que, assim como no entretenimento, a comunicação política precisa de renovação sem perder coerência. Quem souber equilibrar esses elementos poderá se destacar sem cair na armadilha do exagero.
E você, acredita que a comunicação política precisa de limites ou a busca pela atenção justifica qualquer estratégia?