O período eleitoral no Brasil começa oficialmente em 16 de agosto, mas muitos candidatos estão antecipando suas propostas e colocando as próprias campanhas em risco, dado que a maior parte dos eleitores ainda não está em processo de escolha de candidatos, coisa que costuma acontecer só no mês de setembro. Em um universo de campanhas eleitorais cada vez mais profissionais e disputadas, ter como estratégia de marketing político a antecipação de propostas é um tiro no pé, e nas próximas linhas explicarei o motivo.
O uso de redes sociais na pré-campanha
Primeiro é preciso compreender bem em que momento estamos, que é o da pré-campanha. A legislação eleitoral brasileira abriu esse espaço para que os pretensos candidatos, chamados de pré-candidatos, a vereador ou a prefeito, possam se apresentar melhor aos futuros eleitores, de forma com que cheguem ao período eleitoral mais conhecidos, mas é aí que entra uma certa confusão.
Atuo em processos eleitorais há mais de 20 anos, e no marketing político há 16 anos exatos, sendo um dos pioneiros no uso do marketing digital nesta área, e desde o início percebi que muita gente não compreende bem o que precisa ser feito em cada momento, pulando etapas importantes da comunicação.
O anseio de conquistar o coração do eleitor o mais breve possível – usando conteúdos inadequados – é um dos erros mais comuns, porque acaba “chateando” as pessoas com conteúdos diretamente políticos, muitas vezes sem narrativas e com uso excessivo de identidade visual institucional, em ambientes que foram feitos prioritariamente para entretenimento e relacionamento, que são as redes sociais como Instagram, Facebook e Tiktok.
Em resumo, como explico nas minhas aulas, redes sociais são como salões de festas de clubes. Quer chamar atenção de um jeito que as pessoas gostem de você? Regras simples:
- Não baseie toda a sua fala em você, falando de suas vantagens
- Interaja com as pessoas, pergunte coisas sobre elas
- Compartilhe histórias que sejam interessantes para elas
- Faça menções a outras pessoas e as valorize
- Não fale o tempo todo
Olhando para os pontos acima, faça uma análise agora, transportando para a política e veja se cabem publicações com propostas que serão implementadas caso vença a eleição.
Geralmente, com exceção a compra de votos ou outras influências, os eleitores escolhem representantes que parecem conhecer suas realidades, que tenham afinidade em valores morais, que se mostrem aptos a resolver problemas da comunidade. Primeiro vem a conexão emocional, a crença de que há uma semelhança de pensamento entre o representante e o representado, depois vem o pragmatismo do que será feito.
Qual o melhor momento para falar de propostas com eleitores?
“Ah, mas meu adversário está falando de propostas e eu tenho que falar”, é o que mais escuto dos pré-candidatos. Para contrapor essa colocação me vejo obrigado a usar a sabedoria milenar impressa no inconsciente coletivo de todas as mães do planeta: “Você não é todo mundo. Se todo mundo resolver pular da ponte, você pulará também?”.
Quem opta por desistir de criar conexões agora, adentrando o campo do racional sem que tenha constituído uma relação prévia de confiança, reconhecimento, credibilidade e afinidade, está errando feito. Perdendo um tempo que não voltará e, certamente, será julgado no momento adequado, no dia da eleição.
Para chamar mais atenção ainda para essa questão, vale observar as últimas eleições presidenciais no Brasil e as propostas que mais marcaram as pessoas. Ciro Gomes ficou marcado pela ideia de limpar o nome dos brasileiros, Bolsonaro pela proposta de acabar com o PT, Lula porque disse que iria colocar picanha na mesa dos mais humildes. Nada técnico ou prático. Retóricas simples apenas, mas colocadas no momento certo e alinhadas a grandes grupos de eleitores.
É preciso compreender o quanto antes o que isso significa para errar menos. Até porque campanhas eleitorais não são decididas muitas vezes por candidatos que acertam mais, mas sim por aqueles que comentem poucos ou inexpressivos erros.
Propostas serão mais bem avaliadas quando os eleitores estiverem realmente em busca de escolher o melhor entre as alternativas, o que deve acontecer em meados de setembro. Tentar convencer uma pessoa que ela precisa comprar algo antes do seu momento de consumo é forçar uma venda, e pode estressar uma relação.
O desgaste e a concorrência
Outros pontos que devem ser observados são relacionados ao desgaste das ideias e o “aproveitamento” delas pelos adversários políticos.
Começando pelos adversários, a partir do momento que uma candidatura antecipa o que pretende fazer, falando de suas ações antes do momento certo, ela permitirá que seus oponentes identifiquem e antecipem a estratégia de conteúdo que será utilizada durante o período eleitoral, construindo contra argumentações respaldadas em análises técnicas, reduzindo a credibilidade da candidatura ou, ainda pior, pegar as ideias, aprimorá-las e apresentar no momento que os eleitores realmente tiverem interessados.
E por fim, mas não menos importante, há o problema do desgaste natural da ideia, que acontece ao longo do tempo. Como ainda falta muito tempo para o dia da urna, e a eleição será basicamente uma disputa por atenção do eleitorado, para que uma ideia seja conhecida desde já até o dia da votação será necessária uma exposição constante, o que pode transformar a proposta inovadora em algo comum, que não desperte mais emoção ou intenção de voto.
Em vez de pensar em apresentar propostas, acredito que o caminho seja colocar para os eleitores o que a candidatura representa, quais grupos representa, quais os princípios que defende, por meio de posicionamentos de marca que construam a reputação, não como se fosse um panfleto de “unguento cura tudo”.