Um dos maiores desafios para quem deseja disputar uma eleição é o orçamento. “Como vou saber o que as pessoas pensam se não tenho dinheiro para contratar um instituto renomado?” Essa é a pergunta que recebo quase todo dia. A boa notícia é que é perfeitamente possível fazer uma pesquisa qualitativa barata e construir um diagnóstico sólido, mesmo com poucos recursos, usando inteligência e “sola de sapato”.
O diagnóstico político é a base de qualquer planejamento de campanha vitorioso. Sem ele, você é como um piloto voando no escuro, torcendo para não bater na montanha. Muitos pré-candidatos acham que pesquisa qualitativa se resume àquelas salas espelhadas com ar-condicionado e café chique (o tal do focus group). Claro que isso é ótimo, mas não é a única ferramenta. O objetivo aqui é entender o cenário, os sentimentos do eleitorado e as brechas que seus adversários deixaram.
Por que o diagnóstico político é indispensável?
Antes de gastar um centavo com impulsionamento ou santinho, você precisa saber onde está pisando. O diagnóstico serve para evitar que você fale “A” quando o eleitor quer ouvir “B”. Ele serve para você não gastar energia em um bairro onde ninguém vai votar em você, ou para descobrir que o “grande problema” da cidade, na verdade, não incomoda tanto assim a maioria das pessoas.
Quando falamos de poucos recursos, a moeda de troca deixa de ser o dinheiro e passa a ser o seu tempo e a sua capacidade de observação. Vamos ver como fazer isso na prática.
Passo 1: Use os dados públicos a seu favor
A primeira etapa da sua pesquisa qualitativa não custa nada além de tempo de internet. Você precisa fazer o dever de casa que a maioria dos políticos ignora: olhar os dados.
- Histórico Eleitoral (TSE): Entre no site do TSE. Veja quem foi bem votado no seu bairro nas últimas três eleições. O perfil é conservador? Progressista? As pessoas votam em renovação ou reelegem os mesmos nomes? Isso te dá o “humor” político da região.
- Dados do IBGE: Entenda a demografia. Renda média, escolaridade, faixa etária. Não adianta fazer um discurso super elaborado, cheio de termos técnicos, para um público que tem outras prioridades e linguagens.
Passo 2: A pesquisa de campo “no sapato”
Aqui está o “pulo do gato” da pesquisa qualitativa barata. Você vai para a rua, mas não para pedir voto (ainda não é hora disso). Você vai para ouvir. E quando digo ouvir, é ouvir de verdade, despido de preconceitos.
Como fazer a escuta ativa
Escolha pontos estratégicos: a padaria movimentada, a porta da escola, a praça central, o ponto de ônibus. Puxe conversa sobre a cidade, não sobre política partidária. Pergunte: “Como está a saúde aqui no bairro?”, “O que o senhor acha que falta nessa rua?”.
Anote as palavras exatas que as pessoas usam. Se elas dizem que o posto de saúde está “uma bagunça”, use essa palavra na sua comunicação futura. Isso gera identificação. O objetivo é identificar as dores reais, que muitas vezes são diferentes das dores que os políticos acham que existem.
Passo 3: Mapeamento digital e adversários
Outra forma de enriquecer seu diagnóstico com poucos recursos é monitorar as redes sociais. Mas não fique só na sua bolha. Vá nas páginas da prefeitura, dos jornais locais e, principalmente, dos seus adversários.
Leia os comentários. É ali que o eleitor desabafa. Se tem 50 pessoas reclamando de buraco na rua X na página do prefeito, você acabou de encontrar uma pauta relevante. Use ferramentas gratuitas como o Google Trends para ver o que as pessoas da sua região estão pesquisando. Isso mostra o interesse genuíno da população, sem filtros.
Organizando as informações: Análise de Forças e Fraquezas
Depois de coletar dados do TSE, ouvir as pessoas na rua e monitorar as redes, você terá um material riquíssimo. Agora, organize isso numa análise simples (que no mundo corporativo chamam de SWOT, mas aqui vamos chamar de bom senso):
- Forças: No que você é bom? O que as pessoas elogiaram em você?
- Fraquezas: Onde o calo aperta? Falta dinheiro? Falta conhecimento de nome?
- Oportunidades: Qual problema da cidade ninguém está resolvendo e você pode abraçar?
- Ameaças: Quem são os adversários fortes que disputam o mesmo voto que você?
Conclusão: Inteligência vence dinheiro
Fazer uma campanha com poucos recursos exige mais suor e mais cérebro. A pesquisa qualitativa feita por você mesmo, observando e ouvindo, pode ser até mais eficiente do que um relatório frio que ninguém lê. O segredo é transformar essa informação em ação estratégica.
Não espere o período eleitoral começar para tentar entender o eleitor. Comece agora. Pegue o mapa, vá para a rua, anote, estude. Campanha se ganha no detalhe e na antecipação.
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