Com uma média de 26 mil acessos ao mês e conteúdo elaborados por especialistas, o canal Marketing Político Hoje tornou-se referência para profissionais e entusiastas da comunicação e do marketing político.
“São cinco anos de produção de pesquisa, conteúdo e articulação de autores para canal. O diferencial do Marketing Político Hoje é o fato dele ser feito por pessoas que se dedicam às áreas de comunicação e marketing político, que têm histórias reais, experiências e opiniões qualificadas para compartilhar”, destaca Maíra Moraes, editora e uma das autoras do canal.
Maíra complementa que o Marketing Político Hoje foi criado também com o objetivo de formação de mercado. “Acreditamos que a troca e o compartilhamento de informações que o canal propõe valoriza o mercado e permite que os profissionais da área, ao lerem um artigo publicado, tenham um espaço de aprendizagem informal. Essa é uma ideia central do Marketing Político Hoje”.
Nessa linha, o canal lança o Por dentro do Marketing Político Hoje, uma coluna que tem como objetivo destacar a experiência de seus autores na área, divulgando e fortalecendo suas ideias e área de atuação.
Por dentro do Marketing Político Hoje
Em sua estreia a coluna traz a entrevista com Felipe Tonet, consultor e estrategista digital, que desde as eleições de 2018, estuda a implementação de ferramentas de crowdfunding em campanhas políticas e seus impactos na arrecadação de partidos e candidatos.
Boa parte da população não conhece o termo crowdfunding, mas já ouviu falar sobre vaquinhas virtuais e financiamento coletivo. Existe alguma diferença entre eles?
Tonet: Crowdfunding e financiamento coletivo são a mesma coisa. No Brasil, como estamos mais habituados ao termo vaquinha, muita gente chama o financiamento colaborativo de vaquinha virtual. Porém, não são exatamente a mesma coisa.
Já a vaquinha, geralmente é feita para beneficiar alguém ou um grupo específico. O crowdfunding tem como objetivo financiar projetos, inclusive os políticos.
Muito tem se falado sobre as doações de pessoas físicas a campanhas eleitorais e partidos, acredita que o momento político atual é favorável e este movimento?
Tonet: A proibição das doações empresariais diminuiu muito a quantidade de recursos disponíveis para a realização das campanhas eleitorais. O Fundo Partidário não é suficiente para todos os candidatos e partidos.
Neste cenário, as doações de pessoas físicas se tornam cada vez mais importantes e as ferramentas de crowdfunding facilitam e viabilizam este processo. Porém, é preciso motivar e dar razões para o eleitor embarcar no projeto e doar para a campanha eleitoral.
Apesar dos descrentes, o cenário é favorável. Aos interessados eu indico a leitura e análise da pesquisa O que o eleitor conectado quer, realizado bianualmente pela escola de marketing político Presença Online. Em sua última edição, sobre as eleições 2018, a pesquisa mostrou que 23% dos eleitores respondentes tinham disposição em doar para seu candidato e 14% “talvez doaria”. Não é um percentual baixo.
Além disso, é um bom exemplo lembrarmos que alguns candidatos foram bem-sucedidos em suas campanhas, como Marcelo Freixo em 2016 para Prefeitura do Rio de Janeiro e Virmondes, deputado estadual em Goiás. São cases que vale a pena pesquisar e aprender com eles.
Ainda falando sobre isso, para você, os candidatos e partidos conseguiram enxergar o potencial do crowdfunding nas últimas eleições?
Tonet: Acredito que, por diversos motivos, o financiamento coletivo foi subutilizado na última eleição.
Primeiramente, precisamos lembrar que somente em 2018 a legislação eleitoral permitiu a captação de recursos por meio de plataformas especializadas. Antes disso, eles precisavam ser captados por meio de plataforma própria, dentro do site do candidato, o que encarecia o processo e inviabilizava a prática para grande parte dos candidatos.
Em países como os Estados Unidos, existe uma cultura de doação e participação popular no financiamento de campanhas. É possível que isso aconteça por aqui?
Tonet: Apesar dessa questão cultural, o financiamento colaborativo faz parte da essência da construção político-partidária. Muitas causas foram e são financiadas por meio de contribuições de partidários e apoiadores.
Para contribuir financeiramente com uma campanha eleitoral ou um projeto político, o eleitor precisa sentir-se parte do projeto, da construção de algo maior, que irá gerar um benefício pessoal e social.
A questão é: não se pode achar que pelo fato de um projeto estar em uma plataforma, surgirão pessoas do nada para apoiá-lo.
Este ano, ainda em 2019, não temos muita clareza dos candidatos. Temos alguns pré-candidatos, mas que pela legislação não podem pedir votos. Nesse cenário, é possível já começar um movimento de crowdfunding para financiar uma campanha eleitoral?
Se sim, quais os primeiros passos? Se não, o que pode se fazer agora?
Neste momento não existe nenhuma restrição para a realização de campanhas de crowdfunding por políticos ou partidos.
É permitida a criação de campanhas de crowdfunding sobre causas e bandeiras que defendem, oferecer recompensas e produtos pelas doações, angariar seguidores e militantes.
Partidos poderiam realizar campanhas voltadas para seus filiados ou para a filiação de novos membros, oferecendo produtos do partido como recompensas.
A questão é que o crowdfunding não é apenas uma forma de captação de recursos, mas também uma poderosa ferramenta de engajamento e mobilização de pessoas.
Na verdade, existe um cenário enorme e pouco ou nada explorado.
Qual o caminho, quem planeja utilizar o crowdfunding nas eleições de 2020, precisa seguir para alcançar bons resultados?
Tonet: As pessoas não irão correr para doar para a sua campanha de crowdfunding somente por ela estar no ar. Esse é o primeiro ponto que precisa ser entendido pelos candidatos, uma campanha de crowdfunding de sucesso depende de planejamento, narrativa, base de contatos e mobilização. Será muito difícil obter sucesso em uma campanha de financiamento coletivo sem a criação de uma boa narrativa, que gere empatia e senso de pertencimento. Uma rede de apoio e contatos bem estruturada também é fundamental.
Quais leituras você indica para os interessados no tema?
Tonet: Estou trabalhando em um e-book sobre o tema, um material objetivo e direto, com poucas páginas, mas bem completo. A intenção é que possa ser utilizado como um guia para quem pretende captar recursos por meio do crowdfunding nas eleições de 2020. Ele ajudará tanto quem precisa compreender este modelo de financiamento, quanto quem estiver procurando por dicas sobre a o processo de implementação.
Além disso, acho um bom começo os artigos do professor Marcelo Vitorino sobre o tema. “Como ter sucesso no crowdfunding 1” e “Como ter sucesso no crowdfunding 2” não são focadas na política, mas descrevem ações básicas para se entender o crowdfunding.
Focado na política, escrevi o “Você já está pensando no crowdfunding da sua campanha eleitoral?“, que indico como ponto de partida para se pensar na arrecadação por parte de candidatos e partidos.
Felipe Tonet é jornalista, especializado em Gestão da Comunicação em Plataformas Digitais pela ESPM, é consultor e estrategista digital. Possui experiência em gestão de crises, construção de reputação digital e mobilização em mandatos políticos e campanhas eleitorais.