Vamos ser sinceros: ninguém acorda de manhã pensando em ler o currículo de um político. Um dos erros mais comuns que vejo em consultorias de marketing político é o pré-candidato achar que sua lista de cargos, diplomas e medalhas de honra ao mérito é suficiente para conquistar o eleitor. A verdade crua é que as pessoas não se conectam com papelada; elas se conectam com histórias, com emoção e, principalmente, com quem entende as dores delas.
Na pré-campanha, o seu objetivo principal não é mostrar que você é o mais inteligente da sala, mas sim que você é a pessoa certa para representar aquela comunidade. E para fazer isso, você precisa aprender a falar da sua história de vida de um jeito que faça sentido para quem está ouvindo, sem parecer aquele chato que só fala de si mesmo no churrasco de domingo. A comunicação política moderna exige que você desça do pedestal e olhe no olho do cidadão.
Se você quer ter chance de vitória, precisa entender que a narrativa vence o currículo. Neste artigo, vou te explicar como transformar sua trajetória profissional e pessoal em uma ferramenta poderosa de conexão, garantindo que o eleitor preste atenção no que você tem a dizer.
Por que o currículo afasta o eleitor?
Pense nas redes sociais como um grande salão de festas ou um barzinho. As pessoas estão ali para se entreter, ver os amigos e relaxar. Se você chega nessa festa distribuindo seu currículo lattes ou falando formalmente sobre sua pós-graduação em gestão pública, o que acontece? As pessoas se afastam. Elas vão buscar alguém mais interessante para conversar.
O eleitor médio não quer saber se você foi secretário disso ou diretor daquilo. Ele quer saber o que essa experiência significa para a vida dele. O currículo é frio, impessoal e focado no “eu”. A boa comunicação política foca no “nós”. Quando você lista seus feitos sem contexto, você cria distanciamento. O eleitor olha e pensa: “Parabéns para você, mas e o buraco na minha rua?”.
Contextualize sua história de vida
O segredo para não ser chato é inserir a sua história dentro do contexto da vida das pessoas. Não é sobre o cargo que você ocupou, é sobre o que você viu e sentiu enquanto estava lá. É a famosa “virada de chave”.
Por exemplo, em vez de dizer: “Sou médico há 20 anos e tenho especialização em saúde da família”, experimente dizer: “Nos meus 20 anos atendendo nos postos de saúde da nossa cidade, cansei de ver mães voltando para casa sem remédio para seus filhos. Foi essa angústia que me fez querer entrar na política”.
Percebe a diferença? No segundo caso, você usou sua autoridade técnica (ser médico), mas conectou isso a uma emoção e a um problema real que o eleitor reconhece. Você deixou de ser um currículo e virou um ser humano preocupado com o próximo.
Use a Jornada do Herói na sua narrativa
Você não precisa ser um roteirista de cinema, mas entender o básico de narrativa ajuda muito. As pessoas amam histórias de superação. Na pré-campanha, tente organizar sua fala seguindo uma lógica que gera empatia:
- A Origem: De onde você veio? Quais dificuldades enfrentou que são comuns às pessoas da sua região?
- O Desafio: Qual foi o obstáculo que te fez mudar de vida ou de pensamento?
- A Motivação: Por que você decidiu enfrentar o desafio da vida pública? (Lembre-se: “para ajudar as pessoas” é muito genérico. Seja específico).
Isso humaniza sua figura. Mostra que você, assim como o eleitor, também tem batalhas, família, medos e esperanças. Isso gera identificação imediata.
Valores morais valem mais que diplomas
Outro ponto fundamental que ensino sempre: o voto é, primeiramente, emocional e baseado em confiança. E confiança se constrói com valores compartilhados. Antes de saber se você é competente, o eleitor quer saber se você é “gente boa”, se defende a família, se é honesto, se é trabalhador.
Ao contar sua história de vida, destaque os momentos que mostram seu caráter. Fale dos ensinamentos dos seus avós, da dificuldade de abrir seu primeiro negócio, da criação dos seus filhos. São esses elementos que mostram quem você é de verdade. O diploma mostra o que você estudou, mas sua história mostra quem você é.
Dicas práticas para não errar
Para fechar, separei algumas recomendações rápidas para você aplicar hoje mesmo nas suas redes sociais e discursos:
- Fale menos de “eu” e mais de “nós”: Use sua experiência para propor soluções coletivas.
- Mostre bastidores: Humanize sua imagem tomando café, brincando com o cachorro ou conversando com a vizinha. Saia do modo “institucional”.
- Seja um contador de histórias: Treine contar fatos da sua vida de forma curta e interessante. Se a história for longa e chata, ninguém vai ouvir até o final.
- Escute mais: Às vezes, a melhor forma de falar de si é ouvindo a história do outro e dizendo: “Eu te entendo, já passei por algo parecido”.
Construir uma reputação sólida e uma narrativa envolvente não acontece do dia para a noite. Exige técnica, estratégia e muita sensibilidade. Se você quer se aprofundar nisso e aprender o passo a passo de uma campanha vitoriosa, recomendo fortemente que você conheça o curso Imersão Eleições. Lá, nós dissecamos cada etapa desse processo para que você não perca tempo nem dinheiro cometendo erros básicos.
Espero que este artigo tenha te ajudado a repensar como você se apresenta. Lembre-se: você não é um pedaço de papel, você é uma história viva. Conte-a direito!



