Assumir o papel de coordenador de pré-campanha não é uma tarefa para quem busca apenas agradar. Muitas vezes, vejo profissionais e assessores com medo de contrariar o candidato, concordando com todas as ideias “brilhantes” que surgem na mesa de bar ou no grupo da família. O resultado disso? Campanhas desastrosas, desperdício de dinheiro e reputações manchadas.
Para que o projeto eleitoral tenha viabilidade real, a relação entre quem coordena e quem disputa o pleito precisa ser pautada na franqueza, e não na bajulação. A pré-campanha é o momento exato para alinhar rotas, porque corrigir o curso durante os 45 dias de campanha oficial é praticamente impossível.
Se você está nessa posição de comando, ou pretende estar, prepare-se. Existem diálogos que vão gerar desconforto, mas que são vitais para a sobrevivência política do seu assessorado. Vamos falar sobre três momentos decisivos onde a sua postura firme fará toda a diferença.
1. A conversa sobre a “bolha” e a realidade dos números
O maior inimigo de um pré-candidato costuma ser o próprio ego, alimentado pelos famosos “puxa-sacos”. O candidato chega na coordenação e diz: “Todo mundo na rua me conhece, já ganhei essa eleição”. A primeira conversa difícil do coordenador de pré-campanha é estourar essa bolha.
Você precisa sentar com ele e apresentar dados técnicos. Não se trata de “achar” que ele está bem ou mal, mas de mostrar pesquisas — quantitativas e qualitativas. É sua função dizer: “Candidato, seus amigos e sua família votam em você, mas a cidade não sabe quem você é, ou pior, sabe e não aprova”.
Essa conversa serve para definir o tamanho real do desafio. Sem esse choque de realidade, o planejamento estratégico vira uma peça de ficção. Mostre que curtidas em redes sociais não são votos na urna e que a estratégia precisa ser baseada em ciência, não em vaidade.
2. O alinhamento financeiro: sonhos versus orçamento
Outro ponto nevrálgico é o dinheiro. Muitos candidatos entram na disputa esperando que o partido arque com tudo ou que doadores apareçam magicamente. O coordenador precisa ter a coragem de perguntar: “Quanto custa essa campanha e de onde vai sair esse recurso?”.
É comum ver projetos pararem no meio do caminho por falta de fluxo de caixa. A conversa difícil aqui envolve:
- Explicar que comunicação profissional, impulsionamento e equipe jurídica custam dinheiro;
- Deixar claro que, sem estrutura mínima, a chance de vitória despenca;
- Cobrar do candidato o empenho pessoal na arrecadação (respeitando as leis da pré-campanha).
Não prometa entregar uma campanha de cinema com orçamento de vídeo caseiro. Alinhar a expectativa de entrega com a realidade orçamentária evita crises graves lá na frente.
3. A hierarquia e a disciplina estratégica
Talvez a mais dura das conversas seja estabelecer quem manda na estratégia. O candidato é a estrela, o dono dos votos, mas ele não pode ser o diretor de marketing, o advogado e o contador ao mesmo tempo. Quando o candidato começa a ouvir palpites de todo mundo — do vizinho ao sobrinho que “mexe com internet” — a campanha perde o foco.
O coordenador de pré-campanha precisa estabelecer que, uma vez definida a estratégia (baseada em dados), ela deve ser seguida. Isso inclui:
- Não fazer promessas inviáveis que a equipe não validou;
- Não postar conteúdos impulsivos que geram crises;
- Cumprir a agenda técnica, e não apenas a agenda política que ele acha agradável.
Se o candidato não respeitar a coordenação profissional, ele estará sabotando o próprio projeto. E você precisa dizer isso olhando nos olhos dele.
O papel do coordenador é proteger o projeto
Ter essas conversas não significa ser grosseiro, mas ser profissional. O candidato contrata ou nomeia um coordenador para resolver problemas e apontar caminhos, não para ser mais um na torcida. A pré-campanha é o momento de construir a base, organizar a casa e, principalmente, profissionalizar a conduta.
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