Uma das dúvidas mais frequentes que recebo de quem decide entrar na vida pública é: “Marcelo, decidi ser candidato, mas por onde eu começo?”. Se você está nessa situação, saiba que começar uma pré-campanha do zero exige mais do que coragem; exige planejamento estratégico, conhecimento sólido de marketing político e uma leitura fria do cenário das eleições. Muitos acreditam que basta criar um perfil no Instagram e sair apertando mãos na feira, mas a construção de uma candidatura viável é um processo de engenharia, não de aventura.
A ansiedade é natural. Você olha para os lados e vê adversários com mandato, com estrutura, com recall de nome, e sente que está atrasado. Mas a verdade é que uma campanha é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Quem larga correndo sem direção, cansa no meio do caminho. O primeiro passo não é ir para a rua pedir apoio (o que, aliás, é proibido na pré-campanha de forma explícita como pedido de voto), mas sim olhar para dentro e organizar a casa. Se você quer começar do jeito certo, precisa seguir um método lógico que transforme sua intenção em um projeto político real.
Defina quem você é: O Autoconhecimento Estratégico
Antes de pensar em jingles, santinhos ou qual será o número na urna, você precisa responder a uma pergunta básica que o eleitor fará silenciosamente: por que eu deveria votar em você? Se você não souber responder a isso em uma frase simples, o eleitor também não saberá.
Nesta fase, você precisa definir sua narrativa e seu posicionamento. Não tente ser o candidato de “tudo e de todos”, pois esse é o caminho mais rápido para não ser o candidato de ninguém. Se você é um médico, sua pauta natural é a saúde. Se é um professor, a educação. Se é um líder comunitário, a zeladoria do bairro. Defina seu território — seja ele geográfico ou temático.
Eu costumo utilizar uma técnica que chamo de “Diamante”, que é uma entrevista em profundidade para extrair o que o candidato tem de melhor, sua história de vida, seus valores e suas motivações. Você precisa ter clareza do que representa para, então, comunicar isso para as pessoas.
Reputação versus Popularidade
Existe uma confusão enorme no mercado político entre ser conhecido (popularidade) e ser respeitado (reputação). Na pré-campanha, seu foco deve ser construir reputação. A reputação chega antes do candidato. Pense nisso como uma entrevista de emprego: o eleitor é o contratante e você está pleiteando uma vaga para cuidar do dinheiro e dos problemas dele.
Use as redes sociais e o contato direto para mostrar que você domina os assuntos que propõe defender. Se você critica a saúde municipal, não basta apontar o dedo e dizer que está ruim; mostre que entende do problema e que tem visão para a solução. Isso gera autoridade. Um pré-candidato que ensina, que orienta e que se posiciona com clareza, ganha a confiança do eleitorado muito mais rápido do que aquele que só aparece para apertar mão em época de eleição.
Organize seus dados: O seu “Big Data” caseiro
Vamos ser sinceros: não existe campanha vitoriosa sem controle de dados. E não estou falando de contratar empresas milionárias de tecnologia. Estou falando de abrir uma planilha de Excel e começar a listar quem são as pessoas que você conhece.
Comece pelo seu “primeiro círculo”: familiares, amigos íntimos, colegas de trabalho, vizinhos. Essas pessoas são o embrião da sua mobilização. Liste nomes, telefones (WhatsApp) e bairros. Um erro clássico é o pré-candidato achar que tem muitos votos porque tem muitos likes no Facebook. Like é métrica de vaidade; contato de WhatsApp é métrica de mobilização. Ter 500 pessoas reais cadastradas, com quem você pode falar diretamente, vale mais do que 5.000 seguidores fantasmas que não interagem com você.
Planejamento financeiro e jurídico
Entrar em uma disputa eleitoral sem saber quanto vai custar ou o que pode ser feito é suicídio político. Você precisa ter uma estimativa de custos. Quanto vai gastar com impulsionamento? Vai ter material impresso na campanha? Vai contratar alguém para ajudar nas redes sociais? Coloque tudo na ponta do lápis.
Além disso, a segurança jurídica é fundamental. As regras mudam a cada eleição. O que era permitido em 2020 pode não ser em 2024 ou 2026. Um post errado, um pedido de voto fora de hora ou uma doação recebida de forma indevida podem impugnar sua candidatura. Tenha sempre um advogado e um contador de confiança, ou estude muito sobre o assunto.
O que fazer agora?
Se você está começando do zero, seu dever de casa para esta semana é:
- Escrever sua biografia e definir 3 bandeiras principais de atuação;
- Limpar suas redes sociais (apagar postagens antigas que não condizem com sua postura atual);
- Criar sua lista de contatos inicial (comece com os amigos e família);
- Estudar a legislação básica sobre pré-campanha.
Começar do zero assusta, mas com método e disciplina, é perfeitamente possível construir um projeto vitorioso. Não espere o período eleitoral começar para se mexer. A eleição se ganha na pré-campanha, na construção silenciosa da sua base e da sua imagem.
Se você quer entender a fundo como estruturar cada uma dessas etapas, como fazer o cálculo de votos necessários e como planejar sua comunicação de forma profissional, eu recomendo fortemente que você conheça o Imersão Eleições. Lá nós dissecamos o passo a passo para quem quer fazer uma campanha profissional, independentemente do tamanho do município ou do cargo.



