Quando me falam que todo político é igual respondo: há bons políticos e maus políticos. Assim como médicos, padres, pastores, advogados, jornalistas e… blogueiros. Quero falar dos maus blogueiros ou melhor, dos pseudo-blogueiros de política que se valem das redes sociais para produzir notícias falsas e aí ameaçar, difamar, apenas porque apostam na impunidade.
Saudamos o crescimento dos digital influencers, é importante dizer. Blogs trazem opiniões, lazer, cultura, moda, estilo de vida, dietas e somam informações para os que procuram por determinado tema ou segmento. Contudo, o que vimos proliferar nos últimos anos são os pseudo-blogueiros. Aqueles que se transvestem de influenciadores e especialistas em comunicação digital para encobrir a face de um criminoso. Sim, comentem crimes.
Como funciona o esquema dos pseudo-blogueiros de política
Esses pseudo-blogueiros conhecem um tanto de rede social, montam páginas em determinada cidade e passam a utilizar como moeda de troca. Moeda, mesmo! Cobram para que autoridades, políticos não sejam citados de forma negativa e, como são bonzinhos, até colocam posts positivos. Pagando bem, que mal tem?
Achacam, chantageiam e se aproveitam do receio de o cidadão, normalmente é uma figura pública, não ter seu nome citado, mesmo que seja fake, que informações não se confirmem e nem mesmo fontes sejam citadas. Devido a grande capacidade que a ferramenta Facebook possui de viralizar uma postagem, uma má reputação pode prejudicar a imagem de pessoas físicas ou jurídicas. E até que a verdade se restabeleça, muita água já correu por baixo dessa ponte e a correnteza arrastou quem teve sua vida revirada até as entranhas.
Durante as eleições de 2018, graças à minirreforma eleitoral que proibiu blogs de publicarem notícias sobre candidatos, e também ao impulsionamento que levou para o feed de notícias só quem pagava para estar lá, os pseudo-blogueiros de política viram uma de suas principais fontes de renda escassearem.
O Facebook também mudou a forma de medir o que deve subir para o feed e, para evitar tantos problemas como suspender páginas e posts, passou a analisar conteúdos supostamente caluniosos dando menor engajamento, salvo blogs que tenham muitos seguidores ou que estejam bem ranqueado nas ferramentas de pesquisa (reserach tools).
Infelizmente nossa legislação ainda não é clara e a justiça não é célere para julgar o que é falso ou verdadeiro. A diferença entre difamação e extorsão , às vezes, é uma linha tênue para que se consiga produzir provas fazendo com que o ambiente favorável dê sobrevida a esses não “profissionais” de mídia social.
Atuação criminosa que traz prejuízos à sociedade
O político tem sido alvo de descontentamento por parte da sociedade. E isso contribui também para que esses “bandidos” ganhem a simpatia de seguidores. Mas isso não tem o condão de absolvê-los do ato ilícito. A insatisfação com a política e o agente público facilita o engajamento de quem curte e compartilha esse tipo de conteúdo sem se dar conta, na maioria das vezes, que está sendo usado para dar audiência ao tal blog e o credenciando para pedir mais dinheiro.
Vale lembrar: a legislação em vigor diz que, quem compartilha mensagens falsas deve responder junto com quem a postou. Cuidado!
Sem mencionar que um conteúdo torto só favorece a manutenção da ignorância.
Políticos que contratam blogueiros, mesmo que sob chantagem, acabam deixando de contratar bons profissionais que poderiam, sim, fazer a diferença na relação com eleitores. Fora o fato que, uma vez chantageados sempre chantageados, e que só se verão livres dessa categoria criminosa quando virar caso de polícia e iniciarem ações nas varas cíveis e criminais.
Para os profissionais que atuam nessa área, lógico, isso só denigre o mercado de trabalho daqueles que ganham seu dinheiro de forma honesta . Afinal ficamos todos no mesmo balaio.
Existe solução para este problema?
Está na hora dos políticos perderem o medo dos canais de mídia social e passarem a enxergar como uma ferramenta aliada de seu trabalho. Mas, só será possível quando separar” o joio do trigo” e parar de achar que qualquer um faz uma foto e publica nas redes sociais. Que seu sobrinho, primo, parente pode substituir um profissional no gerenciamento de sua comunicação. Entender que um vídeo e foto bem produzidos, uma narrativa interessante, uma segmentação de conteúdo reverte bem mais a seu favor do que uma postagem num blog que faz denúncias sem qualquer embasamento.
O problema é que, via de regra, esses pseudo-blogueiros de política se aproximam de políticos vendendo facilidades, sempre com uma solução mágica. Sempre com a promessa de fazer a página “bombar” , de fazer de seu cliente uma celebridade no mundo virtual e, de quebra, construir muralhas seguras em seu entorno contra quaisquer inimigos que se insurgirem ameaçando a próxima eleição.
Esquecem-se de dizer, todavia, que um dia trabalham de um lado da trincheira. Mas antes que as nuvens troquem de figura, no exato momento que os pagamentos forem suspensos ou cessados passarão para o outro lado, com o canhão apontado. Melhor: com a rajada da metralhadora atirando até que a próxima quantia caia em suas mãos e uma nova declaração de amor e de um relacionamento sincero sejam postadas em suas redes rasas e toscas.
Quer saber mais sobre o tema? Confira esta reportagem da Revista Exame que explica o que acontece com quem publica e divulga as famosas fake news.