Um dos cenários mais frustrantes para quem decide entrar na vida pública é ter boas ideias, um histórico de realizações, mas perceber que ninguém está ouvindo. Você faz aquele texto caprichado, grava um vídeo falando sobre um problema real da cidade, publica e… nada. Apenas os amigos de sempre e a família curtem. É aqui que entra a importância de entender o que é audiência paga na pré-campanha. Se você ainda acredita que apenas o conteúdo orgânico — aquele que não custa dinheiro — vai te levar à vitória, precisamos ter uma conversa franca sobre marketing político profissional.
A verdade é que as redes sociais são empresas e, como tais, elas limitam o alcance das suas publicações para que você invista em impulsionamento. Sem colocar verba, sua mensagem fica restrita a uma bolha muito pequena. Para quem está construindo uma estratégia eleitoral séria, depender da sorte ou do algoritmo é um risco que não se pode correr. O uso de tráfego pago é a única garantia de que sua mensagem chegará às pessoas certas, no bairro certo e com o perfil que interessa ao seu projeto político.
O que é audiência paga no contexto político?
Vamos simplificar: audiência paga é aquela que você “compra” para garantir que seu conteúdo seja entregue. Esqueça aquela ideia de comprar seguidores ou robôs — isso é jogar dinheiro no lixo e ainda pode destruir sua reputação. Estou falando de usar as ferramentas de anúncios do Facebook, Instagram e Google para fazer com que seu vídeo apareça na tela do celular do eleitor da sua cidade.
Pense na audiência paga como um megafone em uma praça lotada. Sem ele, você grita e só quem está ao seu lado escuta. Com ele, sua voz alcança a praça inteira. Na pré-campanha, isso serve para furar a bolha, apresentando quem você é para pessoas que nunca ouviram falar do seu nome, mas que compartilham dos mesmos valores ou sofrem com os problemas que você pretende resolver.
É permitido impulsionar na pré-campanha?
Essa é a pergunta de um milhão de votos. A resposta é: sim, é permitido, mas com regras claras. A legislação eleitoral permite o impulsionamento de conteúdo na pré-campanha, desde que não haja pedido explícito de voto. Nada de usar “vote em mim”, “meu número é tal” ou “conto com você na urna”. O foco aqui deve ser exaltar suas qualidades pessoais, sua trajetória e posicionamento político.
Outro ponto de atenção é o pagamento. Como você ainda não tem CNPJ de campanha, todo e qualquer gasto com impulsionamento deve ser pago pelo CPF do pré-candidato ou pelo partido. Não use o cartão de crédito da esposa, do primo ou da empresa. Isso pode gerar problemas sérios de prestação de contas lá na frente.
Quanto investir: a regra da moderação
Muitos pré-candidatos chegam até a mim perguntando: “Marcelo, quanto eu devo colocar de dinheiro?”. O TSE fala em “moderação de gastos”, o que é um termo subjetivo, mas perigoso. Para não correr riscos de ser acusado de abuso de poder econômico, a recomendação técnica que costumamos dar é: não ultrapasse 10% do teto de gastos da campanha anterior para o cargo que você disputa.
O objetivo do investimento na pré-campanha não é saturar o eleitor, mas sim construir reconhecimento (o famoso recall). Se você gastar tudo agora, além de poder ter problemas jurídicos, vai chegar na campanha oficial sem fôlego financeiro. E acredite, os 45 dias de campanha voam e custam caro.
Segmentação: o segredo do sucesso
A grande mágica da audiência paga não é apenas alcançar muita gente, mas alcançar a gente certa. Não adianta falar de problemas da área rural para quem mora no centro da cidade, ou falar sobre creches para quem não tem filhos ou netos. As ferramentas de anúncios permitem que você segmente o público por interesses, localização e idade.
Na pré-campanha, use essa inteligência para testar narrativas. Qual discurso funciona melhor com os jovens? O que as mulheres da classe C estão comentando? Ao segmentar, você otimiza seu recurso e começa a criar um banco de dados de pessoas que engajaram com seus temas. Isso valerá ouro quando a campanha começar oficialmente.
Construindo reputação antes do voto
Por fim, entenda que a pré-campanha é o momento de semear. Use a audiência paga para distribuir conteúdos que construam sua autoridade. Mostre o que você já fez, opine sobre os problemas da cidade, apresente soluções (sem prometer que vai fazer, mas dizendo que “é possível fazer”).
Quando o período eleitoral começar, o eleitor já deve ter uma imagem formada sobre você. É muito mais difícil convencer alguém a votar em um desconhecido em 45 dias do que converter um apoio de alguém que já acompanha e respeita suas opiniões há meses. Use o tráfego pago para construir essa ponte de confiança.
Resumo e próximos passos
Para fechar nossa conversa, lembre-se destes pontos fundamentais:
- Legalidade: Pode impulsionar, mas sem pedir voto e pagando com CPF do pré-candidato.
- Objetivo: Focar em reconhecimento de nome e construção de reputação, não em conversão imediata.
- Moderação: Cuidado com os valores gastos para não configurar abuso de poder econômico.
- Segmentação: Fale com nichos específicos para otimizar seu dinheiro e testar discursos.
Dominar o tráfego pago e as estratégias digitais é o que separa os amadores dos eleitos. Se você quer se aprofundar nisso e entender o passo a passo de uma campanha vencedora, eu recomendo fortemente que você conheça o curso Imersão Eleições. Lá nós detalhamos essas táticas com a profundidade que seu mandato merece.
Um abraço e bom trabalho nessa pré-campanha!



