Muitos profissionais de comunicação e marketing político e candidatos a cargos proporcionais me perguntam frequentemente: afinal, é viável realizar uma pesquisa eleitoral para deputado? A resposta curta é: depende do seu bolso e, principalmente, do seu objetivo estratégico. Diferente das eleições majoritárias (para prefeito, governador ou presidente), onde o universo de escolha do eleitor é limitado a poucos nomes, a disputa para o legislativo envolve centenas, e às vezes milhares, de opções. Isso torna a pesquisa quantitativa tradicional uma ferramenta complexa e, muitas vezes, pouco assertiva se a intenção for apenas medir a intenção de voto espontânea.
Para que uma pesquisa de campanha proporcional tenha validade estatística ao tentar encontrar um candidato específico no meio de uma multidão, a amostra precisaria ser gigantesca, o que eleva o custo a patamares que poucas campanhas possuem recursos para bancar. No entanto, isso não significa que você deva andar no escuro durante a pré-campanha ou a campanha propriamente dita. Existem formas inteligentes de usar dados para orientar sua estratégia eleitoral sem jogar dinheiro pela janela, focando em potencial de voto e entendimento do cenário.
O desafio matemático da pesquisa para deputado
Vamos ser sinceros: fazer uma pesquisa para saber se você vai ganhar a eleição de deputado é, na maioria das vezes, uma ilusão. Imagine que em um estado existam mil candidatos a deputado estadual. Se você tiver 1% das intenções de voto, o que muitas vezes já é suficiente para ser eleito, e a pesquisa entrevistar 1.000 pessoas, apenas 10 pessoas teriam citado o seu nome. Com a margem de erro tradicional de pesquisas (geralmente entre 2% e 4%), esse número de citações estatisticamente não diz quase nada.
Para que uma pesquisa quantitativa para deputado fosse precisa a ponto de cravar uma vitória, a amostra teria que ser muito maior do que as usadas para cargos majoritários, tornando o custo inviável. Por isso, quando vejo candidatos a deputado gastando rios de dinheiro apenas para ver seu nome com “0,5%” em uma lista, vejo um desperdício de recursos que poderiam ser usados em mobilização ou impulsionamento de conteúdo.
O que pesquisar então? Foco no potencial
Se perguntar “em quem você vai votar” não funciona bem para deputados, o que devemos perguntar? O segredo está em investigar o potencial de voto e o perfil do eleitorado. Em vez de buscar a intenção de voto cristalizada, a pesquisa deve servir para entender os anseios da população e onde há espaço para o seu discurso. Algumas abordagens úteis incluem:
- Recall de nomes: Identificar quais são os nomes mais lembrados na região, não necessariamente como intenção de voto, mas como referência política. Isso ajuda a medir o nível de conhecimento (awareness);
- Rejeição e aprovação de padrinhos: Saber se o apoio do prefeito, governador ou presidente ajuda ou atrapalha na sua região;
- Demandas regionais: Entender quais são os problemas prioritários daquela base eleitoral para ajustar a narrativa da campanha.
A força da pesquisa qualitativa
Para campanhas de deputado, muitas vezes a pesquisa qualitativa (grupos focais) oferece um custo-benefício muito melhor do que a quantitativa. Na “quali”, não estamos preocupados com números exatos, mas com sentimentos, percepções e vocabulário.
É na pesquisa qualitativa que você descobre se a sua narrativa de campanha está colando. Você entende se a imagem do candidato passa autoridade ou arrogância, se ele parece jovem e inexperiente ou renovador e dinâmico. Para construir o posicionamento e a comunicação, entender a “cabeça do eleitor” é mais valioso do que ter um gráfico de pizza impreciso.
Monitoramento como termômetro diário
Hoje, com as ferramentas digitais, temos uma vantagem que não existia no passado. O monitoramento de redes sociais pode funcionar como uma pesquisa contínua. Embora não tenha rigor estatístico de amostragem (já que reflete apenas quem está online e falando), ele é excelente para medir a temperatura de temas quentes e a reação imediata a posicionamentos do candidato.
Se você solta um vídeo sobre segurança pública e a reação é majoritariamente negativa ou confusa nos comentários, você tem um dado qualitativo imediato para corrigir a rota. Isso é fazer campanha com inteligência, usando a tecnologia a favor do planejamento.
Planejamento é mais seguro que adivinhação
A pesquisa eleitoral para deputado é possível? Sim. É necessária? Nem sempre. O que é obrigatório é o planejamento de campanha. Muitos candidatos tentam substituir a falta de planejamento por pesquisas, na esperança de encontrar uma “bala de prata” ou um número que afague o ego. Não caia nessa armadilha.
Use os dados disponíveis — históricos de votação por seção eleitoral, dados do IBGE, monitoramento digital — para traçar suas metas. Defina quantos votos você precisa, onde eles estão e qual discurso vai mobilizá-los. A pesquisa deve ser uma bússola para ajustar a rota, não o motor do barco.
Conclusão e próximos passos
Em resumo, fazer pesquisa para deputado exige cautela. Se for fazer, foque em entender o cenário e testar narrativas (qualitativa) ou medir conhecimento de nome em regiões específicas (quantitativa segmentada), mas não espere que ela lhe dê o resultado da urna com precisão matemática.
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