Um dos erros mais comuns que vejo em consultorias por todo o Brasil é o pré-candidato que quer abraçar o mundo com as pernas. Na ânsia de agradar a todos, ele tenta falar sobre saúde, educação, segurança, infraestrutura e meio ambiente, tudo ao mesmo tempo. O resultado? Ninguém presta atenção em nada. Para ter sucesso no marketing político, é fundamental entender que a pré-campanha é o momento de definição de identidade. Se você não souber quem é e o que defende, o eleitor também não saberá.
Escolher as bandeiras eleitorais corretas e as pautas estratégicas não é uma questão de gosto pessoal ou de “achismo”. É uma decisão técnica que envolve a análise da sua biografia, o entendimento do cenário político e, principalmente, a conexão com as dores reais da população. Quem tenta ser o candidato de tudo, acaba sendo o candidato de nada. Neste artigo, vamos conversar sobre como afunilar sua mensagem para ganhar relevância e autoridade.
Por que você não pode defender tudo?
Vamos ser sinceros: o recurso mais escasso em uma campanha, além do dinheiro, é a atenção do eleitor. As pessoas estão bombardeadas de informações o dia todo. Se a sua comunicação política for genérica, ela vira paisagem. Ninguém para para ouvir quem fala o óbvio.
Quando você escolhe bandeiras estratégicas, você facilita a vida do eleitor. Você cria um “rótulo” positivo na mente dele. Pense comigo: se você precisa de uma cirurgia no coração, você procura um clínico geral que \”entende de tudo\” ou um cardiologista? Na política, a lógica é parecida. O eleitor busca alguém que entenda da dor dele. Se a dor dele é a falta de creche, ele vai procurar o candidato que tem a educação como pauta prioritária, e não aquele que fala um pouco de asfalto e um pouco de iluminação pública.
Olhando para o retrovisor: sua história define sua pauta
Não adianta inventar uma bandeira só porque as pesquisas dizem que é um tema popular. Isso é oportunismo, e o eleitor fareja isso de longe. Para uma pauta ser legítima na sua pré-campanha, ela precisa ter lastro na sua biografia.
Se você é médico, é natural que a saúde seja sua bandeira principal. Se você é professor, a educação é o seu território. Tentar fugir da sua área de origem para falar de segurança pública, por exemplo, sem nunca ter atuado na área, gera ruído e desconfiança. A coerência é a mãe da credibilidade. Use sua trajetória profissional ou de vida comunitária como o alicerce das suas propostas.
A demanda do eleitorado e a pesquisa
Você já tem sua biografia, ótimo. Agora, precisamos saber se o que você tem a oferecer é o que as pessoas querem comprar. Aqui entra a importância das pesquisas e do diagnóstico de cenário. Não dá para basear sua estratégia apenas no que você acha importante.
Às vezes, o candidato é especialista em saneamento básico, mas a cidade está clamando por emprego e renda. Nesse caso, é preciso encontrar um ângulo dentro da sua expertise que converse com a demanda latente. Por exemplo: “Obras de saneamento geram emprego e movimentam a economia local”. Você adapta a sua pauta para atender a ansiedade do eleitor, sem perder sua essência técnica.
Definindo a hierarquia das pautas
Eu costumo recomendar a regra do “1+2”. Escolha uma bandeira principal – aquela pela qual você quer ser lembrado daqui a 4 anos – e duas pautas de apoio que se conectem com ela ou que ampliem seu espectro de eleitores sem causar contradição.
Por exemplo:
- Bandeira Principal: Saúde Pública (foco em zerar filas).
- Pauta de Apoio 1: Assistência Social (cuidar de quem precisa).
- Pauta de Apoio 2: Gestão Eficiente (fazer mais com menos para sobrar dinheiro para a saúde).
Perceba que tudo conversa entre si. Isso cria uma narrativa consistente. Quando o eleitor pensar em “saúde”, ele precisa lembrar do seu nome automaticamente.
Como testar suas bandeiras
Na pré-campanha, você tem o luxo de testar. Use as redes sociais para falar sobre os temas escolhidos e meça a temperatura. O engajamento é maior quando você fala de buraco na rua ou de falta de remédio? Os comentários são positivos ou as pessoas apontam contradições?
Use também as reuniões presenciais. Olhe no olho das pessoas enquanto discursa sobre um tema. Se os olhos brilharem, você acertou. Se as pessoas começarem a mexer no celular, mude o disco. A comunicação política não é monólogo, é diálogo. Escute o que a rua está dizendo sobre as pautas que você escolheu.
Conclusão e próximos passos
Escolher bandeiras e pautas estratégicas exige frieza e técnica. Deixe a paixão para os discursos. No planejamento, seja racional: olhe para quem você é, olhe para o que o povo precisa e encontre a interseção entre esses dois mundos.
Para resumir, aqui está o que você não pode esquecer:
- Não tente ser o candidato de todos os temas; tenha foco.
- Sua bandeira deve ter coerência com a sua história de vida.
- Use pesquisas para validar se sua pauta tem demanda eleitoral.
- Teste seus discursos nas redes e nas ruas antes da campanha oficial.
Se você quer aprofundar seu conhecimento sobre como estruturar uma candidatura vencedora desde o início, eu recomendo fortemente que você conheça o Imersão Eleições. Lá, nós destrinchamos o passo a passo do planejamento de campanha com quem vive isso na pele.
Quer saber mais sobre como se organizar nesta fase? Leia também nosso artigo sobre como estruturar uma pré-campanha eleitoral usando a internet.
Até a próxima!



