Uma das maiores angústias que percebo nos políticos e assessores quando o calendário eleitoral começa a rodar é a tal da “trava do pedido de voto”. A legislação é clara: você não pode pedir voto explicitamente antes do período oficial. Aí, surge a dúvida clássica que recebo quase todo dia no meu Instagram ou nas consultorias: se eu não posso pedir voto, o que um pré-candidato deve falar na pré-campanha? Como eu vou convencer as pessoas se eu não posso dizer “vote em mim”?
Vamos ser sinceros: o eleitor não acorda pensando em quem vai votar para vereador ou prefeito meses antes da eleição. A cabeça dele está nos boletos, na saúde da família, no trânsito, na segurança do bairro. O discurso na pré-campanha não deve ser uma venda antecipada, mas sim uma construção de relacionamento. É o momento de criar conexões, mostrar quem você é, o que você pensa e, principalmente, provar que você entende as dores daquelas pessoas. Quem tenta vender o peixe antes da hora, além de correr risco jurídico, costuma ser o “chato” da timeline. A estratégia de comunicação agora é outra: é gerar reputação, autoridade e empatia. Se você pular essa etapa, quando chegar a hora de pedir o voto, ninguém vai te escutar.
A construção da biografia e dos valores
Antes de saber o que você vai fazer, o eleitor precisa saber quem você é. Parece óbvio, mas a maioria dos pré-candidatos pula essa parte e já quer falar de propostas mirabolantes. Na pré-campanha, o seu foco deve ser contar a sua história. De onde você veio? Quais são suas origens? O que você já fez pela sua comunidade ou classe profissional?
As pessoas votam em pessoas, não em santinhos de papel. Elas buscam identificação. Se você é um professor, por exemplo, conte os desafios da sala de aula, mostre sua trajetória na educação. Se é um comerciante, fale das dificuldades de empreender. Isso gera conexão. Fale dos seus valores morais, da sua família, das suas crenças. Isso ajuda o eleitor a entender se você é “parecido” com ele. Quando o eleitor percebe que vocês compartilham a mesma visão de mundo, metade do caminho para o voto já foi percorrido.
Fale sobre os problemas, não sobre as soluções mágicas
Outro ponto crucial na comunicação política nesta fase é apontar os problemas reais da cidade ou do estado, mas sempre sob a ótica de quem vive aquilo. Não adianta fazer um discurso técnico e frio. Você precisa traduzir o problema. Em vez de falar sobre “déficit orçamentário na saúde”, conte a história da Dona Maria que esperou seis meses por um exame.
O pré-candidato deve se posicionar como alguém que enxerga o que está errado. Você pode criticar a gestão atual? Pode, mas com inteligência. Mostre que você conhece a dor das pessoas. Quando você descreve bem um problema, as pessoas assumem inconscientemente que você sabe como resolvê-lo. Use suas redes sociais para ser a voz da indignação ou da esperança de um grupo específico.
Mostre que você tem lado e opinião
O muro é o pior lugar para estar na política. Quem tenta agradar todo mundo, não agrada ninguém. Durante a pré-campanha, você deve se posicionar sobre temas relevantes para o seu público. Se o assunto da semana na sua cidade é a falta de segurança, não poste foto de “bom dia” com gatinho. Fale sobre segurança. Dê sua opinião.
Isso não significa entrar em toda polêmica vazia da internet, mas sim ter firmeza nos temas que são caros ao seu eleitorado. Se você defende a causa animal, fale sobre isso com propriedade. Se defende o livre mercado, mostre isso. O posicionamento claro ajuda a filtrar quem não votaria em você de qualquer jeito e fideliza quem pensa igual. É a hora de consolidar sua base.
Aposte no diálogo e na escuta
Comunicação não é só falar; é ouvir. Use a pré-campanha para perguntar. Abra caixinhas de perguntas no Instagram, faça enquetes, responda aos comentários (mesmo os críticos, se forem respeitosos). Pergunte às pessoas o que elas mudariam no bairro delas.
Quando você pergunta, você valoriza o eleitor. E mais do que isso: você coleta informações valiosas para montar o seu discurso futuro. O político que sabe ouvir é visto como mais acessível e humano. Use essa fase para entender o sentimento das ruas (e das redes) e ajustar sua bússola.
Resumo do que falar agora
Para não ter erro, foque nesses pilares durante a sua pré-campanha:
- História de vida: Quem é você, suas origens e batalhas vencidas.
- Valores e Crenças: O que você defende e no que acredita.
- Identificação de Problemas: Mostre que conhece a realidade da cidade/estado.
- Opinião Forte: Não tenha medo de se posicionar sobre temas da sua bandeira.
- Bastidores: Mostre sua rotina, suas reuniões, mostre que está em movimento.
Lembre-se: a pré-campanha é uma maratona de construção de confiança. Se você fizer o dever de casa agora, quando a campanha oficial começar, você não precisará se apresentar, apenas convocar os amigos que fez pelo caminho. Se quiser se aprofundar e entender o passo a passo detalhado dessa fase, recomendo muito que conheça o curso Imersão Eleições. Lá a gente mergulha fundo nessas estratégias.
Até a próxima!



