O marketing político tem suas especificidades em relação ao marketing corporativo. A comunicação de um candidato ou gestor público não segue a mesma lógica da comunicação de um produto a ser vendido. Por isso, a redação nessa área tem peculiaridades importantes.
Nos meus quase 10 anos de carreira nessa área, já trabalhei com políticos de diversos campos ideológicos, com cargo e sem cargo, e no Legislativo e Executivo. Coloquei em 5 tópicos o que vejo ser relevante para um bom texto de comunicação política.
1. Ok, mas o que o cidadão ganha com isso?
O que o cidadão espera de um gestor/candidato? Ele espera benefícios. Ele quer saber o que as ações do político vão trazer de bom para o dia a dia dele. O que eu ganho com a emenda que o deputado Fulano trouxe para a minha cidade? O que eu ganho com esse projeto de lei que foi aprovado na Câmara?
Seu texto deve focar e responder claramente essa questão.
2. Evite o “juridiquês”
Tanto o poder Executivo quanto o Legislativo são repletos de termos jurídicos, complexos e rebuscados. A função da comunicação política é simplificar essas expressões e traduzi-las para o cidadão comum. O “juridiquês” pode ser a forma tecnicamente correta de expor leis, decretos, ações do Ministério Público, etc. Mas não é a melhor forma de informar as ações políticas para a população.
Se sua vó ou seu tio mais humilde não entendem a expressão jurídica que você está escrevendo, não use ou explique de forma simples o que ela significa.
3. Esses números de verbas e leis são necessários?
“O decreto nº 8379203/2020”, “O PL 23849/21”, “A emenda de R$ 438.750,00”. Esses números são necessários para a comunicação de um político? Alguém vai conferir o número do decreto ou as vírgulas dos centavos da emenda do deputado?
Se essas informações não são extremamente necessárias para seu texto, é melhor excluir ou esconder elas. O que importa é o benefício e o que essas ações vão trazer de útil e significativo para a vida do cidadão.
4. Analogias e comparações
Muitos políticos com boa oratória usam e abusam dessas ferramentas. E estão corretos em termos de comunicação. Comparar o orçamento do governo com o orçamento do chefe de família, comparar eleição com uma maratona, etc.
As analogias também são importantes para deixar o texto mais compreensível, explicar temas difíceis e aproximar o cidadão do conteúdo.
5. Menos jornalismo, mais comunicação
Aqui muitos formados em jornalismo, como eu, pecam. Um texto sobre a aprovação de uma lei por um deputado não deve ser um texto jornalístico com “lead” e informações frias. Ele deve explicar, informar, contar uma história e até entreter.
Qual o benefício dessa lei? O que ela tem a ver com quem está lendo? Qual é a história do deputado com essa pauta?
Deixe os detalhes técnicos, datas e afins para os repórteres. O texto de comunicação política deve envolver quem lê em uma história, mostrar a importância daquele fato e o benefício para as pessoas.
Não acrescentei “Bom português” porque acho que seria um conselho muito óbvio para qualquer redator. Mas vale lembrar, é claro.
Se tem outras dicas, deixe nos comentários deste artigo também.
Por Emílio Lins