O Brasil conta com um processo democrático relativamente maduro, com uma quantidade razoável de profissionais especializados em campanhas eleitorais, com partidos já bem estruturados e legislação eleitoral bastante abrangente, e mesmo assim, foram muitas as surpresas com os resultados das eleições.
Muitos políticos tradicionais perderam espaço e não conseguiram se reeleger, candidatos sem histórico político conquistaram cargos importantes, as coligações partidárias não se mostraram tão importantes como em outros anos, as propagandas na televisão tiveram impacto reduzido e, com campanhas mais baratas e enxutas, muitos vencedores utilizaram a internet como principal meio de comunicação com os eleitores.
Como já era esperado após os ocorridos com as campanhas presidenciais de Donald Trump e Emmanuel Macron, a disseminação de boatos e notícias falsas, popularmente chamadas de “fake news”, foi motivo de debate por todo o Brasil.
O grande vilão acabou sendo o WhatsApp, tratando-se do principal meio para que a multiplicação dos boatos acontecesse, pegando a maior parte dos políticos e partidos brasileiros despreparados.
A menos que algo seja feito, o mesmo cenário ocorrido no Brasil pode muito bem se repetir nas eleições de Portugal, que tem em outubro seu processo eleitoral mais importante. A disseminação de notícias falsas já é prática conhecida no velho continente, que experimenta até hoje o gosto amargo do processo de saída da Inglaterra da União Europeia, em um processo bastante influenciado pela multiplicação de mensagens na internet.
O que partidos e políticos portugueses podem fazer para se preparar melhor para as eleições?
Diferentemente do modelo eleitoral brasileiro, o sistema de escolha dos candidatos portugueses para a Assembleia da República é feito por meio do voto em lista, o que coloca um peso ainda maior na construção de narrativas ideológicas e também pode tornar mais fácil a manipulação do eleitorado em caso de uma fake news bem produzida.
Imagine que em determinada região um partido esteja com boas chances de eleger muitos parlamentares, mas no meio das eleições surge um boato de corrupção envolvendo dois ou três dos indicados na lista. Provavelmente a lista toda perderia votos e o partido ficaria com menos vagas.
Diante desse cenário, faz-se necessário que os partidos aproveitem o tempo que resta para:
- Atrair e cadastrar simpatizantes
- Preparar filiados partidários para atuar no combate aos boatos
- Estabelecer canais de comunicação de rápida resposta
- Estruturar sistema e processos de monitoramento de ameaças
- Ter conteúdos sobre seus candidatos bem posicionados na internet
- Selecionar e treinar equipe de comunicação com habilidade no uso de ferramentas digitais
Todo esse trabalho não será fácil e o tempo disponível é muito curto, mas diante dos riscos da manipulação da democracia, vale dedicar cada dia que falta para a eleição.
Os desdobramentos podem ser terríveis caso as campanhas eleitorais não reconheçam esse novo cenário que envolve a comunicação política, com polarização nas redes sociais, notícias falsas nos celulares e eleitores cada vez mais confusos.
Agora que você já entendeu o poder da construção de boas narrativas, confira algumas dicas!