Este artigo faz parte da série sobre teóricos das ciências sociais e como seus pensamentos e teorias podem contribuir para uma visão crítica e criativa do que anda acontecendo no mundo da prática da comunicação e do marketing político.
Para saber mais, dá uma lida no primeiro artigo sobre Emilie Durkheim, lá explico melhor os objetivos dessa série e a programação completa.
Hoje eu quero falar sobre um crush Max Weber e como o conceito de “tipo ideal”, elaborado por ele no século 19, continua presente em seu dia a dia profissional, no mercado do marketing político.
Se você faz planejamento de comunicação ou tem interesse em pesquisa e segmentação de públicos em redes sociais, melhor ler até o fim 😉
Um trio para fechar: Emilie Durkheim, Karl Marx e Max Weber
Conhecidos como a tríade da sociologia clássica, já falamos de Émile Durkheim, Karl Marx e fechamos com Max Weber
Quem
Max Weber (1864 – 1920)
Por que ler Weber
Como você já sabe (pois leu os artigos sobre Durkheim e Marx, né?), Weber é considerado um dos fundadores da sociologia e suas teorias atravessam áreas diversas como a economia, política, comunicação, direito, administração de empresa, entre outras.
Continua sendo um dos pensadores mais influentes entre os pesquisadores das ciências sociais. Diversos tipos de estudos mobilizam várias de seus conceitos, Pierre Bourdieu (que terá um espaço especial por aqui <3), por exemplo, foi fortemente influenciado por Weber na formulação de seu conceito central: o campo.
A obra mais conhecida de W. é “A ética protestante e o espírito do capitalismo” em que estabelece uma relação entre a cultura capitalista moderna e o puritanismo vigente nas igrejas protestantes dos séculos XVI e XVII, principalmente o calvinismo.
Também contribuiu para a definição do conceito de Estado, burocracia e racionalização, que se tornaram referência para a sociedade ocidental, influenciando até hoje estudos em diversas áreas, principalmente o Direito.
Pra completar seus motivos, W. também foi um personagem importante na política alemã da época sendo consultor/orientador de políticos e mandatários ao fim do 2º Reich, quando a Alemanha (Prússia) negociava o Tratado de Versalhes, em 1919. (você matou essa aula? se contextualiza aqui)
—(=’;’=)— Notinha da tia Maíra para o profissional de marketing político —(=’;’=)—
Chamar a Alemanha nazista de 3º Reich (1933 – 1945), fazia parte de uma estratégia de reputação de Hitler, que buscava legitimá-lo como sucessor dos grandes impérios germânicos.
Aproveitando… lembre-se sempre que o Holocausto aconteceu. ¯\(°_o)/¯
—(=’;’=)— Fim da Notinha —(=’;’=)—
Em outras palavras…
Weber é uma leitura fundamental para o profissional de comunicação e marketing político, isso sem citar políticos em si.
Seus conceitos têm um potencial abrangente de análise. Carla Costa Teixeira, antropóloga da Universidade de Brasília, tem um estudo chamado Honra moderna e política em Max Weber, em que investiga o Congresso Nacional buscando compreender, inspirada em Weber, as concepções de decoro parlamentar no universo político brasileiro, em especial na Câmara dos Deputados.
Nesse estudo, a autora discute, a partir de uma visão weberiana, a vocação dos políticos e da política tendo a honra como seu valor distintivo.
?Bem atual, não?
Quando encerrar um assunto usando Weber
Quando um ser humano sagaz bradar: “o problema do país é a falta de objetividade do jornalismo!”.
Você manda que há mais de um século Weber escreveu que a sociedade é uma construção humana e, com base nisso, envolta em ações irracionais (afetiva e tradicional) e racionais (por fins e valores). O que não invalida metodologicamente a produção jornalística e científica.
Para Weber, não existe análise científica puramente “objetiva da vida” ou “fenômenos sociais” que seja “independente de determinadas perspectivas”.
Mas não pare por aí! ᕦ(ツ)ᕤ
Rapidamente já traga que na década de 70 do século passado, isto é, há 50 anos, Gaye Tuchman, uma socióloga americana, compreendeu que exigir um discurso da isenção total é o mesmo que destituir o jornalista de subjetividade (isso é, do ser humano).
Ela explica que a objetividade no jornalismo é um “ritual estratégico” que os profissionais seguem na produção da notícia como forma de cumprir procedimentos (apuração, contraditório, noticiabilidade) buscando proteção e também legitimação. É nesse processo que podemos identificar os profissionais dos embustes. ¯\_(ツ)_/¯
E como já escreveu Weber: todo conhecimento construído é apenas um fragmento limitado da realidade.
Recomendação de leitura para o profissional de marketing político
Texto: A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais
O que tem nesse texto?
Aqui encontramos o conceito de “tipo ideal” criado por Weber para estruturar seu método de estudo sociológico.
Agora pare! ? O “tipo ideal” não tem nada a ver com seu perfil no Tinder. (será? ?)
Esse conceito está ligado ao modo de pensar do pesquisador, é uma construção mental, um trabalho de reflexão, um recorte do que se pretende pesquisar, dando “corpo” ao objeto de estudo.
Weber ressalta que o “tipo ideal” não existe em sua forma pura na realidade. Mas, apesar disso não é uma categoria totalmente subjetiva e pessoal pois tem como função atuar na compreensão e/ou explicação de “fenômenos sociais”.
Quando nos referimos a “cidade urbanizada”, “cidadão do bem”, “mundo medieval”, estamos construindo “tipos ideais”.
Mas atenção! Não confunda “tipo ideal” com um processo de generalização. O “tipo ideal” não é de natureza do genérico, muito pelo contrário, ele traz visibilidade ao que é específico nos fenômenos culturais.
É um quadro de pensamento lógico.
Em resumo, construir um “tipo ideal” é uma forma, um método, para organizarmos as informações disponíveis no mundo social.
E você com isso?
E você com isso? Tudo, mana!
O seu trabalho e as suas estratégias partem dessa noção. (pelo menos deveriam…)
Vou dar dois exemplos práticos.
A cada dois anos, durante o período pré-eleitoral, a escola de comunicação e marketing político Presença Online, realiza uma pesquisa conhecida como O que o eleitor conectado quer.
A pesquisa é realizada pela internet e chega a uma amostragem estatística de quase dois mil respondentes.
Todos os alunos da escola recebem uma planilha com as informações coletadas por meio de um questionário, respondida pelos eleitores brasileiros conectados à internet, abrangendo temas como perdil demográfico, consumo de conteúdo, disposição ao voto, interesse em realizar doações, entre outros temas.
Na hora de montar o planejamento de campanha, cada aluno/pesquisador vai utilizar a planilha para fazer filtros específicos, de acordo com sua realidade empírica, isto é, de acordo com o tamanho da cidade, com espectro ideológico do candidato político, sexo, idade etc.
As categorias e cruzamentos são diversos. Nesse exercício está se construindo o “tipo ideal”, uma estrutura lógica de sistemas conceituais.
Quer outro exemplo bem prático?
Quando você se mete a fazer estratégias de anúncios on-line ou publicação de posts com públicos segmentados, você está fazendo o quê?
Trabalhando com um conceito weberiano de “tipo ideal”.
E, um aviso importante, a qualidade e complexidade da construção do “tipo ideal” estão vinculadas à imaginação do pesquisador, isto é, ao seus conhecimentos.
Então vá estudar!
Críticas atuais
Marxistas e durkheimianos não curtem muito Weber.
Weber propôs um método entendido como sociologia compreensiva, batendo de frente com Durk.
? Grosso modo: se para Durkheim o estudo da sociedade partia do afastamento do pesquisador da coisa estudada (fato social), Weber entende que é inevitável deixarmos nossos gostos e vontades de fora quando trabalhamos na pesquisa, afinal fazemos parte da sociedade e não seria possível sair dela para olhar analiticamente para ela.
Para Durkheim os fatos sociais acontecem independente da vontade humana, para Weber quem constrói a sociedade são os humanos movidos por vontades e intenções. Não tem como olhar a coisa de fora, estamos dentro.
Com relação à Marx, Weber faz críticas ao materialismo histórico e a algumas inconsistências nos “tipos ideais” desenhados por Marx. Outro ponto é o fato de Weber analisar o capitalismo, mas não propôs uma revolução em busca de novos modelos, como buscam os marxistas.
Jessé de Souza em um artigo sobre a atualidade de Weber para a Revista Cult analisa que no Brasil, a influência do pensamento weberiano é dominada pela leitura liberal usando seu nome como autoridade científica para a legitimar uma noção de errônea de “patrimonialismo”, indicando uma suposta ação parasitária do Estado e de sua “elite” sobre a sociedade. Vasculhando bem, Weber não disse isso.
Adendo
– Tia Maíra, manda aí um som que tu gosta pra eu entender esse lance de “tipo ideal”.
– Toma.
Explicação Bônus:
Na letra (tradução), você identifica diversas características de um “tipo ideal” do cidadão americano que, acredita ser mais abençoada por Deus do que outros países: nacionalista, geolocalizado, eleitor do presidente em exercício (George H. W. Bush), xenófabo, acredita na força militar, religioso etc. Eis um exemplo de “tipo ideal”.
Quem é o próximo
No próximo artigo vamos continuar um pouco a noção de tipo ideal com brasileiro Sergio Buarque de Holanda.
Ele abre nosso trio de pensadores brasileiros, junto com Gilberto Freyre e Caio Prado Jr.