Com o cenário previsto, um leigo ou mal informado lhe diria para esquecer tudo que aprendeu sobre campanhas eleitorais, que tudo mudou, mas não é bem assim.
Trabalho em campanhas há muitos anos, e até 2006 fiz parte de campanhas offline, na mobilização, na distribuição de materiais, na organização de segmentos. Em 2008 tive a oportunidade de colocar meu conhecimento de campo junto a primeira grande campanha digital no Brasil, a de Gilberto Kassab, para prefeitura de São Paulo e, desde então, procurei a simbiose entre a rua e a tela.
Durante esse período observei todo tipo de profeta dos rumos do marketing, e a cada eleição vi aproveitadores agindo para tirar dinheiro dos outros, prometendo mágicas impossíveis de realizar.
Pelo que tudo indica, até o período eleitoral começar já teremos controle da situação gerada pelo Coronavírus, mas provavelmente teremos que lidar com os desdobramentos, que impedirão campanhas de fazerem contato com eleitores do jeito que acontecia antes.
Como fazer campanhas eleitorais em tempos de Coronavírus
O caminho será usar das ferramentas digitais como nunca, e esse caminho servirá para duas frentes: a da política e o da comunicação.
No campo da política, toda a mobilização de corpo a corpo, os eventos partidários, os comícios, os encontros com lideranças, o porta à porta, deverão ser digitalizados. Será preciso treinar a militância para atuar de forma organizada e competente em um ambiente virtual, em que a atenção dos eleitores é muito mais dispersa do que no corpo a corpo.
Já treinei muitas equipes para esse fim e afirmo com segurança: não será fácil. Existem questões culturais que precisarão ser remodeladas, o que coloca esse preparo em ordem de prioridade absoluta, dado o tempo que leva para a adaptação.
As lideranças e candidatos precisarão aprender, com urgência, as regras, formatos, linguagens e ferramentas da comunicação digital, dado que a dinâmica e a expectativa dos eleitores será diferente.
Principais mudanças para campanhas eleitorais digitais
Aquele conteúdo que cabia na televisão, no rádio e no impresso, terá que ser repensado para que se torne interessante para pessoas atrás de uma tela cheia de opções. Comícios darão lugar para transmissões ao vivo, santinhos serão stories e tudo o que você já viu ou estava acostumado a fazer, vai precisar encontrar uma forma de caber na tela de um smartphone.
Sem falar nos impulsionamentos, que precisarão ser pensados de forma estratégica, entregando o conteúdo certo para o público certo. Esqueça impulsionar um vídeo para toda uma cidade. Pense em cada conteúdo como se fosse uma fala para um grupo de até 500 pessoas.
Nunca antes na história deste país fazer cadastros de simpatizantes foi tão importante. Eles serão os cabos eleitorais desta campanha e para que queiram atuar, deverão ser preparados e motivados. Atuarão em seus lares, com os seus amigos, colegas de trabalho.
Por fim, como em tudo na vida, sobrevive aquele que se adapta e isso também serve para a política. É preciso fazer o que sempre fizemos, mas de uma forma diferente, com outra velocidade.